A planta Fuchsia, cuja floração exibe tons vívidos em vermelho matizado de violeta, foi estudada no século XVI pelo botânico alemão Leonard Fuchs; e mais tarde foi assim batizada pelo botânico Charles Plumier em sua homenagem.
As adolescentes, Sabrina, Samantha e Elvira caminhavam por uma floresta com seus celulares ás mãos seguindo indicações ao lugar onde encontrariam a Kombi Fúcsia que, segundo uma revista de “wicca”, ás levaria á Endora, uma bruxa capaz de revelar o portal da magia ás três aspirantes á bruxas. A floresta era densa, com arvores tão emaranhadas que não deixavam a luz do dia passar criando a sensação de uma noite eterna sob seus galhos e folhagens. Olhando seu telefone, Samantha avisou: - Hei, encontrei o caminho! – apontou: - Vamos por ali.
- Ah, mas é tão escuro e estreito! – falou Elvira.
- Está com medo? – perguntou Sabrina.
- Não!... Mas isto de ir entrando no meio do mato atrás de um Fusca; sei não!
- O quê, Fusca? – exclamaram Samantha e Sabrina,
- Ué? Não é isso que a gente tá procurando; uma Kombi e um Fusca?
- Elvira, fofa! – respondeu Sabrina: - Não é Fusca, é fúcsia!
- Não é a mesma coisa? – argumentou. – Fúcsia não é igual ao Fusca, que saía da mesma fábrica da Kombi?
- Não, lesada! Fúcsia é uma cor especial, assim, violeta!
- Então porque não chama Kombi violeta?
Sabrina ia responder, mas Samantha alertou: - Silêncio as duas; estamos chegando perto!
Caminharam numa vereda entre arvores roliças, depois cruzaram um regaço por um tronco caído, e chegaram a uma clareira. – Lá está ela! – apontou Sabrina á Kombi parada ao centro. Elvira falou. – Não é nem violeta; parece roxa! – as duas suspiraram e chegaram perto da Kombi, cuja pintura metálica brilhante exibia nuances de muitas cores, do rosa, passando pelo vermelho vivo, ao violeta. Parecia um veículo novo, sem placas, com pneus muito pretos e calotas, para choques e demais guarnições cromadas impecáveis. As janelas estavam tapadas por cortinados negros em veludo, inclusive no para brisa. - E agora; a gente faz o quê? – perguntou Elvira.
Sabrina deu levemente de ombros; e Samantha tomou a iniciativa: - Olá?... Senhora Endora? Viemos seguindo indicações para encontrá-la! – passou um instante sem nada acontecer. – Olá?... Tem alguém aí? - então Elvira notou um pequeno botão perto da porta lateral e o apertou.
- Não mexa em nada, sua doida! – alertou Samantha.
Ela respondeu: - Tá do lado da porta; deve ser a campainha, né?
Então a porta começou a se mover até abrir totalmente, exibindo a cortina de veludo aberta por dedos finos com anéis dourados. As três ficaram boquiabertas ante a figura que se revelou: uma mulher magra com cabelos avermelhados curtos, blusa laranja de gola rolê, colete longo de couro brilhante aberto na frente mostrando um colar colorido; calça preta justíssima e botas. Seus olhos eram negros realçados pela cútis branca. Ela sorriu os lábios vermelhos e perguntou: - Olá garotas; estão perdidas na floresta?
Após momentos de hesitação, Samantha respondeu: - Não estamos perdidas. Estamos procurando por Endora!
- Sou a própria; e quem são vocês?
- Sou Samantha, esta aqui é Sabrina, e aquela ali é Elvira. Somos wiccas!
- Ora, mas que interessante. Nesta idade e já são:... Wiccas?
- Sim! – respondeu Sabrina. – Menos nossa amiga Elvira. – apontou-a. – Ela ainda não é!
- Ah é? – olhou-a: - Por que você não é wicca, querida?
Elvira deu de ombros: - Acho que não entendi muita coisa, e fiquei para trás.
Samantha prosseguiu: - Já conseguimos fazer algumas coisas: poções e adivinhações.
- É mesmo? – encarou-a: - Adivinhações do quê?
- Se tem alguém nos olhando por trás. – respondia Sabrina: - Se alguém está nos desejando mal, ou fazendo algum feitiço contra nós!
- Isto é muito importante! – falou Endora apontando para cima. – Quem as consagrou como wiccas?
- Foi a Glenda! – respondeu Samantha. - Participamos de uma reunião onde demonstramos nossos dons. Só Elvira que continua como aspirante. – ela abaixou a cabeça envergonhada, enquanto Endora perguntou: - E,... Vocês vieram á mim em busca do quê?
Samantha a encarou ao responder: - Viemos em busca dos seus conselhos, senhora Endora. Queremos conhecer os caminhos da magia e do mistério,... Não apenas conhecê-los, mas dominá-los; e sabemos que podemos!
Oh, gostei da resposta rápida e objetiva; mas advirto-as que os caminhos que querem trilhar não são fáceis; escondem muitas armadilhas; indicações equivocadas e também decepções! – as três garotas trocaram olhares enquanto Endora prosseguia: - Vocês terão muito a aprender nesta jornada! Estão preparadas?
- Sim! – responderam Samantha e Sabrina em uníssono. Elvira respondeu depois.
Endora abriu o resto da cortina e falou: - Então entrem garotas. O tempo é precioso!
Elas entraram, e a cabine da Kombi era luxuosa, com bancos de couro vermelho cheios de guarnições douradas nos pés. Havia um tapete oriental no assoalho, e cristais nas luzes internas; as laterais eram revestidas no mesmo couro dos bancos emolduradas em madeira, e até o teto era decorado com pinturas que criavam a ilusão do veículo ser mais alto. – Sentem-se queridas. Ah, devem estar cansadas desta caminhada no bosque. Estão com sede? – elas assentiram e Endora abriu um pequeno frigobar, buscando uma garrafa de cristal e três pequenos copos. Samantha perguntou: - É uma poção mágica?
- Não querida; é apenas um suco natural de frutas vermelhas para refrescar! – e as serviu. Era delicioso! Então perguntou: - Bem, queridas: Podemos então iniciar nossa jornada?
- A onde iremos senhora Endora? – perguntou Sabrina. - Não avisamos em casa que demoraríamos!
- Hum,... Não deviam ter feito isto; mas não se preocupem. A nossa jornada começa aqui mesmo! – Endora buscou um pequeno controle remoto, e um monitor ao fundo da Kombi acendeu com imagens de um ramalhete de flores Fuchsia. Elvira fez um muxoxo e perguntou: - Vai ser tudo por computador, aqui?
- Sim! Por que perguntou?
- Ah,... Então não precisava da gente ter andado no meio desse mato todo; era só acessar um link? – Sabrina a cutucou e Samantha a repreendeu: - Não faça perguntas bobas, e preste atenção ao que Endora vai falar! – Elvira ficou corada e disse: - Desculpe,... Não quis ser mal agradecida.
Endora sorriu e prosseguiu: - A magia é uma ciência muito antiga, praticada desde a pré-história quando o homem das cavernas olhou para o céu, intrigado com a natureza que desconhecia. – surgiu no teto da Kombi, a imagem de um céu com lua e estrelas: - E o homem passou a criar deuses que dessem sentido ao sol, á lua, ás estrelas, ao dia e á noite; e á vida e á morte! – no monitor surgiu a imagem das inscrições na Gruta de Lascaux, na França, e prosseguiu: - Um dia, o homem viu que também poderia criar imagens de seus deuses; e assim imaginou ser possível representá-los simbolicamente para comunicar-se com eles! – as três garotas se entreolharam enquanto surgia a imagem de uma fogueira no monitor: - Mas ainda havia o mistério do fogo! – surge a imagem de um raio partindo uma árvore: - Era algo misterioso vindo do céu; direto do mundo dos deuses! – então, num espécie de efeito holográfico; surgem mãos produzindo fagulhas num monte de folhas, que ardem em chamas. – E o homem descobriu que também poderia produzir o fogo sagrado, e viu que também poderia exercer domínio sobre o plano inferior que habitavam. – ela suspirou: - A magia é a prática humana dos poderes ocultos na natureza, para comunicar-se com os seres superfísicos, ou deuses, e também exercer domínio sobre os planos terrenos, produzindo efeitos visíveis, e tangíveis!
Elvira levantou o dedo e perguntou: - Sobre o fogo que a senhora falou: é por isto que as bruxas fazem rituais em volta do fogo, do jeito que a gente vê nos filmes? – Samantha a cutucou, e Endora falou: - Prossiga a pergunta querida!
- Bem. Se a gente já domina o fogo, e pode até fazer armas com ele; deixou de ser coisa só dos deuses, né? – Endora assentiu, e ela concluiu: - Então porque continuar fazendo rituais em volta do fogo, se já é coisa dominada pelo homem desde a época das cavernas na pré-história? – as duas colegas abanaram a cabeça em reprovação.
Endora a olhou e respondeu: - É porque os mistérios a respeito de qualquer coisa desdobram-se em mais mistérios á medida que são elucidados! O conhecimento obtido nunca poderá bastar á mente do mago, ou da bruxa,... E, á bem da verdade; á ninguém, porque se tronará presunção. Sabe o que é isto?
- Sim! - respondeu Elvira: - É achar que já sabe tudo! Tá; mas e o fogo, é pra quê?
- É para reverenciar o fogo primordial, que abriu o portal da magia aos homens, e nunca nos esqueçamos dos ancestrais que o produziram. Foi daí que tudo começou, e o fogo representa esta memória como uma homenagem a todos os antepassados que estudaram, escreveram ou falaram sobre os conhecimentos da magia, e termos em mente que sempre haverá mais a aprender. Entenderam?
Elas assentiram, embora Elvira fizesse muxoxos de dúvida. Endora prosseguiu: - A magia permite fazer certas coisas que não são realizáveis sob as leis naturais conhecidas, Assim, aprendemos a manipular as forças sutis da natureza.
Samantha interrompeu: - Manipular significa fazer coisas que não são normais. É o sobrenatural?
- Sim! – respondeu Endora. - O sobrenatural é algo que ultrapassa a esfera do natural, e poderia até mesmo transgredir as leis da natureza criando coisas fora do comum; ou extranaturais!
Sabrina perguntou: - Então a gente pode induzir as pessoas á fazerem o que a gente quiser com magia?
-A princípio sim. A magia pode ser classificada em teúrgica, ou magia natural de caráter benéfico em harmonia com as leis da natureza; ou goércica, cujo caráter é mais sombrio. – encarou-as: - Por que me perguntaram isto, queridas?
As duas garotas trocaram olhares, e Samantha falou: - É porque sempre ouvimos falar de bruxas poderosas que conseguem tudo que querem e, como a senhora disse, podem transgredir as leis da natureza para isto! – sorriu: - Já somos wiccas, e sabemos que temos poderes mágicos, mas ainda não sabemos usá-lo!
Sabrina completou: - É isto que a gente veio procurar: saber como usar a magia!
Endora cruzou os braços e colocou a mão esquerda diante dos lábios enquanto cerrava os olhos: - Então vocês vieram aqui para que eu as ensine como virar bruxas poderosas?
- Isto mesmo! – respondeu Samantha: - Sabemos que a senhora é uma bruxa muito poderosa! Queremos nos tornar suas discípulas e aprender tudo!
- Ora vejam o que Glenda me enviou: três aspirantes á Malévolas! – sorriu Endora com sarcasmo, e olhou Elvira: - Você aí, que é tão perguntadeira; agora se cala? Concorda com suas amigas?
Ela deu de ombros: - Ah, mais ou menos!... Não sei.
- Como não sabe? – encarou-a: - Tem dúvidas?
- Muitas!... Eu não gosto de falar que quero uma coisa, se não sei direito o que é.
Samantha cortou: - É por isto que estamos aqui, sua lesada! – olhou na direção de Endora: - Para conhecer tudo que devemos saber!
- Mas que ótimo! – inclinou levemente a cabeça antes ao explicar: - Porém, devo dizer que, para se autodenominarem wiccas falta-lhes muito! – elas espantaram: - Talvez vocês estejam confundindo a fé wiccana com vodu! – ergueu as mãos: - É bem verdade que o conhecimento da magia pode torná-las capazes de manipular as forças da natureza visando apenas seu próprio benefício. – deu de ombros: - Não julgo quem optar por este caminho; apenas devo recordar que tudo que fazemos contra as leis de Deus, produz uma deterioração das nossas qualidades anímicas, que significa: pertencentes á alma!
- A senhora falou em Deus? – perguntou Elvira. – Que engraçado!
- O que é engraçado, querida?
- É que a gente sempre soube que bruxaria não é coisa de Deus, mas,... De outra coisa!
- Do diabo, você quer dizer? – Endora riu: - As velhas associações que ligam a magia ao demoníaco; isto é exatamente o que os wiccas não querem!
- E o que querem então? – perguntou novamente Elvira.
- Devem querer a magia como um caminho que leve ao conhecimento da natureza, para usá-la ao auxilio dos seus semelhantes na forma teúrgica! Wiccas são magos adeptos da magia branca, solidária. A própria palavra wicca significa sabedoria! – olhou Samantha e Sabrina. – Porém, como eu disse: não estou aqui para fazer juízo a respeito das escolhas dos outros, mas advirto que a escolha da magia negra pelo caminho goércico, na manipulação das forças ocultas do universo com finalidades egoístas para obter poderes junto aos seus semelhantes, não as fará felizes. – deu de ombros: - Talvez apenas,... Poderosas!
- Então, a senhora não abrirá o portal da magia para nós? – perguntou Samantha.
- Querida: A magia que vocês querem, não é a que posso lhes ensinar; sinto muito! Sugiro que expliquem direitinho o que querem á Glenda para que lhes direcione ao lugar certo;... Talvez uma bruxa goércica, ou um feiticeiro!
Fez-se um silêncio na cabine da Kombi, até Samantha falar: - Ok, senhora Endora; vamos fazer isto.
- É melhor irmos embora! – exclamou Sabrina: - Papai não sabe que estou aqui.
Levantaram-se; Endora abriu a porta da Kombi, e as garotas saíram. Ela ainda falou: - Mais uma vez, eu peço desculpas por não tê-las atendido da maneira que esperavam!
Samantha olhou-a e falou: - Nós pagamos uma taxa para vir aqui. Podemos ter nosso dinheiro de volta?
- Eu gastei gasolina para vir aqui, além do tempo que dispensei a vocês, meus amorzinhos. Sem reembolso: sorry!
Elas se colocaram em marcha, mas Elvira ficou e perguntou: - E se eu quiser voltar; pode?
Sabrina se irritou e a puxou: - Vamos embora! – aproximou num cochicho: - Não tem nada aqui pra gente! – As duas iam furiosas. Samantha resmungou: - Vamos reclamar á Glenda; essa mulher é uma farsante! – e seguiram o caminho de volta.
Endora olhou-as sumir na mata. Então pegou seu celular e chamou Glenda: - Pelos deuses, á onde você arranjou essas babaquinhas metidas a bruxinhas, no shopping?
- A coisa está difícil amiga; é o que aparece! São ruins assim?
Entrando na Kombi: - Não foi perda total. Fique de olho na Elvira porque possui algo precioso á qualquer mago: a dúvida sem receio de perguntar. Até mais amiga! – sentou na direção, ligou o motor e a Kombi fúcsia partiu á uma nova busca de discípulos.
FIM.
Gostei muito desse seu texto. Ótimo domínio sobre o assunto. Parabéns
ResponderExcluirMuito interessante, Ramón. Como eu sempre lhe digo, a cada texto, um grande aprendizado. Adorei 👏👏👏
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