domingo, 31 de outubro de 2021

SEMPRE ÁS 15:25 - CONTO PUBLICADO ORIGINALMENTE EM 07 DE JANEIRO DE 2020.

 

 “Certos espíritos podem ser atraídos por coisas materiais; podem sê-lo por certos lugares, que podem escolher como domicílio até que cessem as razões que o levaram a isto.”

                                                                                  Allan Kardek

 

Em 1978 um motorista de taxi chamado Messias possuía um automóvel Volkswagen Passat quatro portas que usava na praça. Era um homem de meia idade e muito desconfiado principalmente de histórias de fantasmas.

Sempre que ouvia casos de aparições sobrenaturais ou relatos de coisas se movendo sozinhas, ele dizia: - É tudo ilusão da mente ou da cachola cheia de birita!

Seu amigo Ramón retrucava: - Não é não! Você nunca ouviu o ditado que diz que há mais coisas entre o céu e a terra do que crê nossa vã sabedoria? Ele riu: - O que tem entre o céu e a terra são as prestações deste carango para pagar, meu chapa! Me deixa ir trabalhar que o dia é longo e a grana curta!

Naquele começo de tarde ele chegou ao ponto de táxis da Rua São João Nepomuceno com Avenida Presidente Getúlio Vargas, no Centro de Juiz de Fora, e ficou olhando uma aglomeração em frente ao bar que existia logo na esquina, na avenida. Ele abanou a cabeça pensando: “Mais uma briga no boteco. Tem gente que não sabe beber!”. Já ia até lá saber o que estava acontecendo quando alguém abriu a porta traseira do seu carro: era uma senhora elegante com um garoto.

- Boa tarde senhora! – já foi acionando o taxímetro. – Para onde vamos? – ela respondeu: - Vamos para a Praça das Caveiras! Sabe aonde é?

 - Sim senhora! – e saiu com o carro. – o menino fez careta e falou: - A praça não chama Praça das Caveiras. Chama Praça da República! - ela o olhou e se dirigiu á Messias: - Ei motorista; eu por acaso perguntei á esse fedelho qual era o nome da bendita praça?

- Eu não ouvi perguntar,...

- E por acaso quando eu disse “Praça das Caveiras” você não sabia á que praça eu estava me referindo?

- Sim senhora,... Eu entendi.

- Viu? Ele entendeu. – falou olhando o menino, que retrucou: - Mas o nome é Praça da República!

- Cala a boca e vê se não me cansa seu pirralho! – concluiu.

Messias achou graça daquele diálogo e seguiu rumo á praça, conhecida popularmente como “praça das caveiras” por que na década de 1950, quando fizeram obras de remodelação, encontraram várias ossadas enterradas em valas coletivas. Depois descobriram se tratar de pessoas que morreram vítimas da gripe espanhola de 1918, e foram enterradas naquele lugar porque não houve tempo de sepultá-las no Cemitério Municipal logo em frente da praça. Diziam que o lugar era assombrado por isto. Messias dizia que aquilo era pura lenda e que o perigo da praça não eram os mortos, mas os vivos!

Logo chegava á Rua Espírito Santo que dá acesso á praça, e adiante viu seu amigo Ramón do outro lado que lhe gritou: - Pare, preciso falar com você! – ele respondeu: - To com passageiro! – mostrando o banco traseiro com o polegar, e seguiu. Mas teve que parar mais á frente no início da Rua Osório de Almeida por causa de um caminhão manobrando. Irritado e sem olhar para trás ele reclamou. – Veja só senhora, esses motoristas de caminhão pensam que são donos da rua,... Sai daí meu irmão! – o caminhão saiu e ele pôde seguir. Mais adiante passou pelo portão do Cemitério Municipal e contornou a praça perguntando: - Qual o número senhora? – não houve resposta e Messias olhou pelo retrovisor interno do carro. Não viu ninguém e parou o carro; se virou e o banco traseiro e estava vazio. – Mas o quê...? – ele percebeu que a porta traseira direita do carro não estava fechada direito. – Olhe só! Aproveitaram que eu tive que parar por causa da merda do caminhão, e deram no pé. Pô, não dá mais pra confiar em ninguém? – contrariado, ele fechou a porta, entrou no carro e retornou ao Centro da cidade.

Novamente Messias estacionou o Passat no ponto da Rua São João, e saiu do carro. A aglomeração continuava na esquina e ele resolveu conferir o que era. Ramón veio ao seu encontro: - Hei cara; precisava falar com você, por que não parou?

Ele andava na direção da esquina, próximo á aglomeração e viu um Ford Maverick preto com o capô amassado, e pensou: “Ih, foi uma batida!”.

Ramón insistiu: - Era um freguês querendo corrida para o Rio!

Ele se aproximou do acidente respondendo: - Eu estava com passageiros, você não viu? - ao olhar o asfalto, Messias viu que tinha sido um atropelamento. Ramón respondeu: - Não! Eu só vi você no carro!

No chão estavam estendidos os corpos daquela senhora elegante e do garoto que a acompanhava, mortos no atropelamento.

Espantado, ele ficou mudo e voltou ao seu carro no ponto; e no decorrer de todos esses anos, outros motoristas relataram o mesmo episódio: sempre ás 15:25.

Fim.

 

Esta é uma história fictícia a partir de relatos sobre passageiros fantasmas em táxis, bondes e ônibus que povoam o imaginário das cidades. Mas as estradas também têm suas lendas e histórias reais de pessoas que relataram experiências reais com a paranormalidade.

Vejamos alguns casos:

Estradas assombradas (CASOS REAIS!). texto publicado originalmente em 28 de novembro de 2019. Aqui resumido.

 

(Os nomes são fictícios)

Em agosto de 1950, na cidade de Dores do Indaiá (MG) um homem de nome Arnaldo possuía uma fazenda na zona rural e costumava fazer o percurso ida e vinda da cidade numa motocicleta. Uma noite acabou demorando-se nos afazeres da fazenda até á meia noite; era inverno e fazia frio, mas apesar do avançado das horas Arnaldo colocou seu agasalho e decidiu voltar á cidade. A estrada passava diante do portão do cemitério e depois seguia por uma longa subida, assim era preciso acelerar a motocicleta para ganhar velocidade. Então subitamente ao galgar a ladeira ele sentiu alguma coisa fria enlaçando sua barriga no mesmo instante que ocorreu um súbito peso na garupa, como se alguém tivesse montado fazendo a velocidade cair de 50 para 40 quilômetros. Junto ao peso extra e a sensação de que alguém o abraçava, ele sentiu um hálito gelado na nuca como se fosse uma respiração, e Isto o apavorou á tal ponto que sequer teve coragem de olhar para trás, acelerando mais a motocicleta para vencer a subida o mais rápido possível. Ao chegar ao alto, seu “passageiro” abandonou a garupa tão rápido que, como o acelerador estava no máximo, a motocicleta lhe escapou por entre as pernas derrubando-o, indo depois tombar na valeta. Arnaldo desmaiou e ao voltar a si correu á motocicleta que mesmo avariada funcionou e ele pode seguir. Apesar do susto, ele passou por aquele local diversas vezes no decorrer dos anos á meia noite, porém nada mais aconteceu.

 

Em 18 de setembro de 1960 cinco pessoas faziam uma viagem noturna, numa Rural Willys, de Luisiânia (GO) rumo á Brasília; a então recém-inaugurada Capital Federal brasileira. Até a meia noite tudo transcorreu normalmente quando o marcador de temperatura do motor demonstrou aquecimento. O motorista parou e junto com um dos passageiros foi verificar o que ocorreu, já imaginando o rompimento da correia do ventilador do radiador; porém, ela estava intacta e não conseguiram descobrir a razão daquele súbito aquecimento. Já iam entrando de volta no carro quando o passageiro foi atingido por uma pedra na testa, seguida de uma saraivada de pequenos pedregulhos que vinham dos arbustos marginais á rodovia. Uma passageira que estava á janela quase foi atingida por uma pedra, que, estranhamente, pousou mansamente sobre suas pernas. O motorista olhou em torno e pareceu-lhe ter visto vultos escondidos atrás dos arbustos enquanto outro passageiro sacava uma arma de fogo desferindo disparos para espantar o que imaginou serem bandidos tentando um assalto, mas o apedrejamento continuou, obrigando-os a entrar no carro e saírem rápido.

Havia um posto policial adiante e decidiram informar ás autoridades sobre o incidente. Um soldado armado pediu que o levassem ao local do apedrejamento e em pouco tempo chegaram ao lugar. Contudo, mal saíram da Rural para serem novamente alvejados com uma chuva de pedras e o motorista manobrou para que os faróis iluminassem os arbustos de onde vinham as pedras enquanto o soldado saia pelo mato com lanterna e arma nas mãos, mas não encontraram ninguém escondido. No posto policial foi feita a ocorrência e decidiram seguir viagem á Brasília.

Mas após alguns minutos na estrada, recomeçou o apedrejamento e a porta do carona começou a se abrir. Conseguiram fechá-la, mas foi só largar a maçaneta para a porta se abrir novamente sendo preciso segurá-la com toda força para mantê-la fechada. Então iniciou um chuvisco de areia sobre a cabeça dos ocupantes que parecia vir do teto do carro ao mesmo tempo em que lhes pareceu ver um vulto correndo ao lado do carro, á mesma velocidade, e isto seria impossível! Apavorado, o motorista acelerou mais ainda o carro com os passageiros cobrindo os olhos para não serem feridos pela areia.

Ao chegarem á Brasília, ás duas horas da madrugada e exaustos, seguiram ao hotel sem relatarem o acontecido a ninguém. Na manhã seguinte o motorista foi examinar a Rural imaginando que as pedradas deviam ter arranhado a pintura e devia haver areia no interior. Mas não havia um arranhão e não tinha um grão de areia sequer nos bancos ou no assoalho do carro, e nem nas suas roupas. As únicas provas do episódio era o corte na testa do passageiro e um arranhão no braço do que segurou a porta, evitando que se abrisse.  

 

Estas narrativas poderiam compor um imaginário que poderíamos definir como “estradas assombradas”. No folclore brasileiro há inúmeras lendas de assombrações que vagam pelas estradas assustando viajantes, como o “Pilão de Fogo” ou “Mão de Pilão”: um demônio com o corpo em labaredas que persegue e queima quem cruza seu caminho; o “Galo Depenado”: um enorme galo totalmente sem penas que se apodera dos pertences dos viajantes depois de matá-los a bicadas e esporadas. O “Maty-Taperê” ou “Matita-Pereira”: um índio que vive nas aldeias abandonadas e se transforma numa enorme ave que com seu guincho faz os viajantes se perderam nos caminhos; o “Cavalo das Almas”: um cavalo preto que aparece nas estradas ás noites para recolher os mortos recentes, levando suas almas à garupa para o inferno; e ainda a “Porca-dos-Sete-Leitões” que dizem ter sido uma bela mulher que tinha sete filhos, que, muito arrogante, teria expulsado um feiticeiro de suas terras. Por vingança ele a transformou numa porca e seus filhos em leitõezinhos que soltam fogo pelos olhos narizes e bocas, que vagam pelas estradas assustando viajantes com seus urros nas encruzilhadas (percebem-se semelhanças com o mito de Niobe da tradição Greco-romana).

Há também uma larga gama de histórias de assombrações em forma de mulheres de branco que vagam pelas estradas e rodovias, sempre ás noites. Nos canais do YouTube existem inúmeros vídeos com aparições de fantasmas de mulheres vestidas de branco que surgem vagando errantes no meio da pista ou no acostamento sem nenhuma razão para estarem ali á aquela hora, apavorando os motoristas (mas a maioria são vídeos de autenticidade duvidosa). Entre motoristas de caminhão existiria uma variação em que a mulher pode aparecer vestida de noiva e pede carona em estradas e postos de gasolina, sempre á noite. Quando o motorista para, não há ninguém, ou quando a “assombração” aceita e entra na boleia, transforma-se num demônio com cabeça de caveira e mata o motorista. Em algumas estradas norte-americanas haveria lendas de uma loira nua que surge nas madrugadas guiando um conversível branco, e ao ultrapassar um carro ou caminhão, enfeitiça o motorista que passa á persegui-la até chegar á uma curva fechada, quando ela desaparece e o motorista despenca no abismo. Dizem que é o fantasma de uma jovem estuprada e assassinada. São variações do mesmo mito em regiões e países distintos.

A parapsicóloga Elsie Dubugras (São Paulo, 1904 – 2006) afirmou que histórias de assombrações, aparições, barulhos e outros fenômenos merecem estudo especial, pois se realmente ocorreram, é preciso descobrir por que e como foram provocados e pode haver uma explicação normal.

 A narrativa do carona fantasma na motocicleta requer considerações sobre seu roteiro. Arnaldo teria ficado até meia noite cuidando de afazeres na sua fazenda que independente da sua natureza, devia deixá-lo cansado e talvez sem condições ideais para pilotar uma motocicleta á noite (não sabemos a distância entre sua fazenda e a cidade). Ao galgar uma ladeira o motor do veículo poderia perder potência e velocidade num repuxo para trás dando a sensação de que alguém teria montado na sua garupa. Fazia frio, e as sensações frígidas de toques e sopros poderiam ser correntes de ar circundando-o ao vento. E ao passar pelo cemitério da cidade á meia noite com as sensações citadas, o imaginário se encarregaria de criar o passageiro fantasma.

 

No caso da Rural que apresentou súbito aquecimento de motor sem explicação, há um detalhe técnico nos motores “Hurricane” que equipavam veículos da marca Willys Overland: eles funcionavam á temperaturas mais elevadas que o convencional e isto poderia ser confundido com alguma anomalia. E quanto aos pedregulhos, devemos lembrar que a estrada que levava á Brasília em 1960, embora fosse asfaltada, poderia ter cascalho solto sobre o pavimento que arremessado ás caixas das rodas da Rural produziriam barulho. Mas a areia no interior do veículo (aporte) e a porta se abrindo não encontrariam explicações naturais. 

O parapsicólogo holandês George Zarab considerava que tanto em casos de assombrações como nos de poltergeist, era imprescindível a presença de pessoas, ou médiuns, que forneceriam a energia necessária ao acontecimento de fenômenos paranormais, ou sobrenaturais. Ainda sobre o caso da Rural Willys seguindo rumo a Brasília, cumpre citar o pesquisador Roger Laffororest (Paris, 1905 – 1998) quando fala de fenômenos poltergeist, aportes e movimentações de objetos sem intervenção física, como frequências vibratórias atuando em vórtices de energia, ou caixas de ressonâncias de energias telúricas, que em tese, cortariam a terra á semelhança dos paralelos e meridianos. É dito que o Planalto Central do Brasil é repleto de energias capazes de criar esses vórtices, que poderiam se manifestar como poltergeist na presença de agentes, ou médiuns, que produziriam os fenômenos de deslocamento de objetos, como apedrejamentos e aportes. Quanto aos vultos nos arbustos e correndo ao lado da Rural em velocidade, poderia ser uma projeção criada como explicação para aqueles fenômenos. O cineasta e ator brasileiro José Mojica Marins (São Paulo, 1936 - 2020), o famoso Zé do Caixão, que também é pesquisador de fenômenos parapsicológicos afirmou que haveria uma necessidade de crer no sobrenatural como explicação para aquilo que não se explica naturalmente, daí a visualização de vultos como fantasmas. Se poderia ainda perguntar: quantos seriam os médiuns entre os passageiros da Rural? Portanto, citando novamente Elsie Dubugras, as respostas para fatos paranormais não são tão simples, agradáveis ou fáceis de aceitar. Assim, não estaria descartada a hipótese de realmente serem intervenções de espíritos de desencarnados, ou almas penadas, que também se manifestariam á presença de médiuns!   

 

FIM

 

 

Referências bibliográficas:

ACUIO, Carlos, O Folclore dos Nossos fantasmas, revista Quatro Rodas, São Paulo, Editora Abril, numero 147, p. 98 – 105,  outubro de 1972.

DO RIO e de São Paulo até Brasília, revista Quatro Rodas, São Paulo, Editora Abril, numero 02, p. 73, setembro de 1960.

DUBUGRAS, Elsie, As Casas Assombradas, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 147/-A, p. 16 – 21,  dezembro de 1984.

DUBUGRAS, Elsie, Chuva de pedras (verdadeiras) em Goiás, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 147/-A, p. 44 - 45,  dezembro de 1984.

DUBUGRAS, Elsie, Os Fantasmas de Borley House, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 145/-A, p. 05 – 09,  dezembro de 1984.

DUBUGRAS, Elsie, Toques e sons Paranormais, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 145/-A, p. 11 – 15,  dezembro de 1984.

LAFFOREST, Roger, Casas que Matam, citado por: MACHADO, Adilson, PIRES, Iracema, Paredes com Memória, Maldições antigas e Radiações Telúricas, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 77, p. 28 – 33,  fevereiro de 1979.

MARINS, José Mojica, citado por ACUIO, Carlos, O Folclore dos Nossos fantasmas, revista Quatro Rodas, São Paulo, Editora Abril, numero 147, p. 105, outubro de 1972.

 

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