segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

ECOS DO ALÉM (CASOS REAIS) - Texto.


(Os nomes são fictícios)
Em agosto de 1950, na cidade de Dores do Indaiá (MG) um homem de nome Arnaldo possuía uma fazenda na zona rural e costumava fazer o percurso ida e vinda da cidade numa motocicleta. Uma noite acabou demorando-se nos afazeres da fazenda até á meia noite; era inverno e fazia frio, mas apesar do avançado das horas Arnaldo colocou seu agasalho e decidiu voltar á cidade. A estrada passava diante do portão do cemitério e depois seguia por uma longa subida, assim era preciso acelerar a motocicleta para ganhar velocidade. Então subitamente ao galgar a ladeira ele sentiu alguma coisa fria enlaçando sua barriga no mesmo instante que ocorreu um súbito peso na garupa, como se alguém tivesse montado fazendo a velocidade cair de 50 para 40 quilômetros. Junto ao peso extra e a sensação de que alguém o abraçava, ele sentiu um hálito gelado na nuca como se fosse uma respiração, e Isto o apavorou á tal ponto que sequer teve coragem de olhar para trás, acelerando mais a motocicleta para vencer a subida o mais rápido possível. Ao chegar ao alto, seu “passageiro” abandonou a garupa tão rápido que, como o acelerador estava no máximo, a motocicleta lhe escapou por entre as pernas derrubando-o, indo depois tombar na valeta. Arnaldo desmaiou e ao voltar a si correu á motocicleta que mesmo avariada funcionou e ele pode seguir. Apesar do susto, ele passou por aquele local diversas vezes no decorrer dos anos á meia noite, porém nada mais aconteceu.

Este caso foi narrado num programa transmitido pela Rádio Tupi do Rio de janeiro em 1976. (2)
Naquela época não era costume cobrir totalmente os corpos de flores nos caixões deixando apenas rosto e colo aparecendo como hoje em dia; assim, o todo vestuário ficava á mostra inclusive os calçados. Assim ocorreu com a senhora Matilde, que foi vestida com as roupas que havia escolhido ainda em vida para esta finalidade e calçada com sapatos novos. O sepultamento foi no Cemitério de Inhaúma, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Porém, na noite seguinte ao enterro, a família foi despertada de madrugado com um lamento ecoando pela casa em forma de queixa: - O sapato está apertado,... O sapato está apertando meu pé! – a princípio imaginaram alguém falando na rua, mas a voz tornou a se queixar: - O sapato está apertado machucando meu pé! – vinha de dentro de casa e era nitidamente a voz da falecida Matilde. O lamento ocorreu nas noites seguintes deixando todos absolutamente apavorados, não havendo reza ou bendição de padre que desse fim ás súplicas e queixumes do além. Então, a fim de tentar apaziguar o espírito da defunta, decidiram pedir sua exumação e conseguiram permissão para abrir o sepulcro possibilitando a retirada dos sapatos dos pés do cadáver de Matilde. Depois disto, cessaram os lamentos definitivamente.

Ás vezes o acaso imprime formas que lembram figuras humanas ás mais variadas superfícies. São muitos os casos em que impurezas depositadas nas lâminas de vidro no processo de fabricação se oxidam, fazendo surgir silhuetas semelhantes á animais e pessoas, inclusive á Cristo e a Virgem Maria, causando romarias ás janelas que apresentam este “defeito” nas vidraças. O caso aqui narrado ocorreu em dezembro de 2019 no Cemitério Municipal de Juiz de Fora, e foi presenciado por mim durante o sepultamento do pai de uma amiga.
Terminado o velório, o cortejo saiu da capela seguindo á parte mais elevada do cemitério passando por uma alameda com túmulos dos dois lados. Então algo me chamou atenção: numa encosta havia uma árvore cujas raízes se entrelaçavam na parede do barranco perfazendo um desenho de estranha beleza. Não resisti e me aproximei para fazer uma foto com meu celular e depois segui o cortejo. Ao ver a foto pela primeira vez, não notei nada de estranho; mas quando ampliei a imagem, as raízes da árvore revelaram a silhueta de um busto feminino delineado no barranco (foto) podendo-se ver esboço de nariz e boca. Intrigado, retornei ao local e me aproximei; de perto era ainda mais estranho, assim fiz mais fotos. Olhei os túmulos mais próximos e vi que há homens e mulheres sepultados há mais de vinte anos. Pelo tamanho e tipo da arvore, seria tempo suficiente para crescerem aquelas raízes; contudo, não encontrei histórico de fenômenos sobrenaturais especificamente naquele local, a não ser que, numa visão espírita, o próprio busto desenhado no barranco com raízes e terra seja a materialização de algum espírito desencarnado.

Os três casos têm um ponto em comum: o cemitério, que talvez seja o local mais propício á histórias de aparições e fantasmas que poderia existir, porque encerra o derradeiro mistério da existência, a morte e a inquietante questão: “o que haverá depois?”. Nas religiões afro-brasileiras os cemitérios são chamados de “casas da verdade” por ser um destino sem escapatória enquanto que alguns defendem a cremação dos cadáveres como alternativa aos sepultamentos. Sem dúvida são lugares que agregam repúdio e fascínio.
Portanto, cumpre fazer uma análise de cada caso:
A narrativa do carona fantasma na motocicleta requer considerações sobre seu roteiro. Arnaldo teria ficado até meia noite cuidando de afazeres na sua fazenda que independente da sua natureza, devia deixá-lo cansado e talvez sem condições ideais para pilotar uma motocicleta á noite (não sabemos a distância entre sua fazenda e a cidade). Ao galgar uma ladeira o motor do veículo poderia perder potência e velocidade num repuxo para trás dando a sensação de que alguém teria montado na sua garupa. Fazia frio, e as sensações frígidas de toques e sopros poderiam ser correntes de ar circundando-o ao vento. E ao passar pelo cemitério da cidade á meia noite com as sensações citadas, o imaginário se encarregaria de criar o passageiro fantasma.
Sobre os queixumes dos sapatos apertados atribuídos á própria senhora Matilde, do além, a narrativa veiculada na rádio não se ateve á maiores detalhes, assim não é possível saber, por exemplo, se ocorreu alguma queixa sobre o referido par de sapatos por parte da própria senhora Matilde em vida. Isto é importante porque revelaria possíveis sentimentos de culpa da família ao colocar sapatos apertados no seu corpo numa espécie de pouco caso, e o remorso os teria impelido em fazer exumação do cadáver apenas para livrar os pés do seu ente querido falecido de um possível martírio pós- morte.
A figura delineada no barranco com terra e raízes talvez chamasse atenção apenas como curiosidade se não estivesse dentro de um cemitério. É como se fosse materialização de algo que supomos pertencer ao mundo dos espíritos com força para imprimir sua imagem numa superfície real. A vista enxerga um busto imperfeito e tosco enquanto que a expectativa de se ver um “fantasma” encarrega-se de completar o desenho de uma mulher. O cenário do cemitério fecharia o ciclo do imaginário, induzindo-nos a ver como evidente algo aleatório.
Contudo, á luz da parapsicologia e da espiritualidade os três episódios poderiam trazer á presença do sobrenatural. Usando-se a classificação das aparições proposto pela jornalista e parapsicóloga Elsie Dubugras (São Paulo, 1904 – 2006) seria possível dividir os casos em quatro categorias: efeitos auditivos; efeitos visuais; efeitos sensoriais e fenômenos objetivos e subjetivos. O caso da motocicleta, quando Arnaldo se sentiu tocado fisicamente, além do peso extra na garupa seriam efeitos sensoriais, objetivos e subjetivos que se manifestaram á presença de um médium. Reportando Alan Kardek (Lyon, 1804 – Paris, 1869) que os definiu como pessoas dotadas de faculdades especiais capazes de materializar fenômenos sobrenaturais, o motociclista Arnaldo poderia ser um médium que ao passar pelo cemitério, compreendido como local propício á formação de “caixas de ressonâncias”, impregnado de energias desprendidas por sentimentos de perda e sofrimento, pôde materializar um corpo subindo á garupa, abraçando-o, e em seguida desaparecendo assim que ele saiu da área de abrangência destas energias.
O caso dos sapatos apertados compreende uma leitura análoga, porém com importante diferencial: a casa onde viveu a senhora Matilde, aparentemente era a mesma que vivia sua família, assim estaria impregnada da sua presença; e isto pode ser entendido como uma espécie de ressonância da sua vida física. Se algum membro de sua família fosse um médium, ele poderia materializar sua presença através de fenômenos auditivos percebidos sob a forma de queixas pelos sapatos apertados, que poderia ter sido um queixume da própria senhora Matilde em vida.
O pesquisador Roger Laffororest (Paris, 1905 – 1998) afirmava que o próprio homem poderia produzir vórtices de energia, e que tais fenômenos seriam a manifestação disto, influenciando o ambiente; e lembrando que espíritas acreditam que almas penadas poderiam interagir com médiuns, enquanto que os espiritualistas não creem na ação direta de espíritos dos mortos e sim numa espécie de ação residual das suas vidas, mas sem espírito. Então poderíamos supor que, em ambos os casos, realmente ocorreram  materializações de fenômenos sobrenaturais.
O caso da figura feminina na encosta do barranco do cemitério poderia ter ocorrido algo semelhante. Há teorias defendidas por espíritas e espiritualistas de que a passagem do tempo é percebida de modo diferente pelos espíritos desencarnados possivelmente por que sua existência ocorreria numa espécie de dimensão paralela. Assim, cem anos da nossa dimensão poderiam ser percebidos pelos espíritos como apenas alguns instantes. Se de alguma forma, um espírito desencarnado permaneceu naquele local, próximo ao seu corpo sem compreensão de que morreu, ou ainda que o sofrimento e a dor desprendida por algum ente querido foi tão intenso. isto poderia ter deixado vestígios delineados nas raízes da árvore num efeito visual permanente.

Fotos: Ramón Brandão.
Referências bibliográficas:

KARDEK, Allan, Revista Espírita, p. 105 – 112, 1864; citado por DUBUGRAS, Elsie, As Casas Assombradas, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 147/-A, p. 21,  dezembro de 1984.
DUBUGRAS, Elsie, Toques e sons Paranormais, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 145/-A, p. 11 – 15,  dezembro de 1984.
LAFFOROREST, Roger, Casas que Matam, citado por: MACHADO, Adilson, PIRES, Iracema, Paredes com Memória, Maldições antigas e Radiações Telúricas, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 77, p. 28 – 33,  fevereiro de 1979.
O passageiro não identificado. Casos malditos, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 15, p. 6,  novembro de 1976.

1– (cf) Cemitério: Grande Enciclopédia Larrousse Cultural, São Paulo, Nova Cultural Ltda, 1998, volume 06, p. 1285.
2 – Um destes programas radiofônicos foi o “Incrível, fantástico, extraordinário” transmitido pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro. A série se dedicava ao relato de histórias fantásticas enviadas pelos ouvintes. Os casos chegavam de todo o Brasil e eram roteririzados por José Mauro e Cesar de Barros Barreto e narrados por Almirante, com participação de rádio-atores e arranjos especiais da Orquestra Tupi regida pelo maestro Aldo Taranto.


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