(Os nomes são fictícios)
Em agosto de 1950, na cidade de Dores do
Indaiá (MG) um homem de nome Arnaldo possuía uma fazenda na zona rural e
costumava fazer o percurso ida e vinda da cidade numa motocicleta. Uma noite
acabou demorando-se nos afazeres da fazenda até á meia noite; era inverno e
fazia frio, mas apesar do avançado das horas Arnaldo colocou seu agasalho e
decidiu voltar á cidade. A estrada passava diante do portão do cemitério e
depois seguia por uma longa subida, assim era preciso acelerar a motocicleta
para ganhar velocidade. Então subitamente ao galgar a ladeira ele sentiu alguma
coisa fria enlaçando sua barriga no mesmo instante que ocorreu um súbito peso
na garupa, como se alguém tivesse montado fazendo a velocidade cair de 50 para
40 quilômetros. Junto ao peso extra e a sensação de que alguém o abraçava, ele
sentiu um hálito gelado na nuca como se fosse uma respiração, e Isto o apavorou
á tal ponto que sequer teve coragem de olhar para trás, acelerando mais a
motocicleta para vencer a subida o mais rápido possível. Ao chegar ao alto, seu
“passageiro” abandonou a garupa tão rápido que, como o acelerador estava no
máximo, a motocicleta lhe escapou por entre as pernas derrubando-o, indo depois
tombar na valeta. Arnaldo desmaiou e ao voltar a si correu á motocicleta que
mesmo avariada funcionou e ele pode seguir. Apesar do susto, ele passou por
aquele local diversas vezes no decorrer dos anos á meia noite, porém nada mais
aconteceu.
Este caso foi narrado num programa
transmitido pela Rádio Tupi do Rio de janeiro em 1976. (2)
Naquela época não era costume cobrir
totalmente os corpos de flores nos caixões deixando apenas rosto e colo
aparecendo como hoje em dia; assim, o todo vestuário ficava á mostra inclusive
os calçados. Assim ocorreu com a senhora Matilde, que foi vestida com as roupas
que havia escolhido ainda em vida para esta finalidade e calçada com sapatos
novos. O sepultamento foi no Cemitério de Inhaúma, Zona Norte do Rio de
Janeiro.
Porém, na noite seguinte ao enterro, a
família foi despertada de madrugado com um lamento ecoando pela casa em forma
de queixa: - O sapato está apertado,... O
sapato está apertando meu pé! – a princípio imaginaram alguém falando na
rua, mas a voz tornou a se queixar: - O
sapato está apertado machucando meu pé! – vinha de dentro de casa e era
nitidamente a voz da falecida Matilde. O lamento ocorreu nas noites seguintes
deixando todos absolutamente apavorados, não havendo reza ou bendição de padre
que desse fim ás súplicas e queixumes do além. Então, a fim de tentar apaziguar
o espírito da defunta, decidiram pedir sua exumação e conseguiram permissão
para abrir o sepulcro possibilitando a retirada dos sapatos dos pés do cadáver
de Matilde. Depois disto, cessaram os lamentos definitivamente.
Ás vezes o acaso imprime formas que
lembram figuras humanas ás mais variadas superfícies. São muitos os casos em
que impurezas depositadas nas lâminas de vidro no processo de fabricação se
oxidam, fazendo surgir silhuetas semelhantes á animais e pessoas, inclusive á Cristo
e a Virgem Maria, causando romarias ás janelas que apresentam este “defeito”
nas vidraças. O caso aqui narrado ocorreu em dezembro de 2019 no Cemitério
Municipal de Juiz de Fora, e foi presenciado por mim durante o sepultamento do
pai de uma amiga.
Terminado o velório, o cortejo saiu da
capela seguindo á parte mais elevada do cemitério passando por uma alameda com
túmulos dos dois lados. Então algo me chamou atenção: numa encosta havia uma
árvore cujas raízes se entrelaçavam na parede do barranco perfazendo um desenho
de estranha beleza. Não resisti e me aproximei para fazer uma foto com meu
celular e depois segui o cortejo. Ao ver a foto pela primeira vez, não notei
nada de estranho; mas quando ampliei a imagem, as raízes da árvore revelaram a
silhueta de um busto feminino delineado no barranco (foto) podendo-se ver
esboço de nariz e boca. Intrigado, retornei ao local e me aproximei; de perto
era ainda mais estranho, assim fiz mais fotos. Olhei os túmulos mais próximos e
vi que há homens e mulheres sepultados há mais de vinte anos. Pelo tamanho e
tipo da arvore, seria tempo suficiente para crescerem aquelas raízes; contudo,
não encontrei histórico de fenômenos sobrenaturais especificamente naquele
local, a não ser que, numa visão espírita, o próprio busto desenhado no
barranco com raízes e terra seja a materialização de algum espírito
desencarnado.
Os três casos têm um ponto em comum: o
cemitério, que talvez seja o local mais propício á histórias de aparições e
fantasmas que poderia existir, porque encerra o derradeiro mistério da
existência, a morte e a inquietante questão: “o que haverá depois?”. Nas
religiões afro-brasileiras os cemitérios são chamados de “casas da verdade” por
ser um destino sem escapatória enquanto que alguns defendem a cremação dos
cadáveres como alternativa aos sepultamentos. Sem dúvida são lugares que
agregam repúdio e fascínio.
Portanto, cumpre fazer uma análise de
cada caso:
A narrativa do carona fantasma na
motocicleta requer considerações sobre seu roteiro. Arnaldo teria ficado até
meia noite cuidando de afazeres na sua fazenda que independente da sua
natureza, devia deixá-lo cansado e talvez sem condições ideais para pilotar uma
motocicleta á noite (não sabemos a distância entre sua fazenda e a cidade). Ao
galgar uma ladeira o motor do veículo poderia perder potência e velocidade num
repuxo para trás dando a sensação de que alguém teria montado na sua garupa.
Fazia frio, e as sensações frígidas de toques e sopros poderiam ser correntes
de ar circundando-o ao vento. E ao passar pelo cemitério da cidade á meia noite
com as sensações citadas, o imaginário se encarregaria de criar o passageiro
fantasma.
Sobre os queixumes dos sapatos apertados
atribuídos á própria senhora Matilde, do além, a narrativa veiculada na rádio
não se ateve á maiores detalhes, assim não é possível saber, por exemplo, se
ocorreu alguma queixa sobre o referido par de sapatos por parte da própria
senhora Matilde em vida. Isto é importante porque revelaria possíveis
sentimentos de culpa da família ao colocar sapatos apertados no seu corpo numa
espécie de pouco caso, e o remorso os teria impelido em fazer exumação do
cadáver apenas para livrar os pés do seu ente querido falecido de um possível
martírio pós- morte.
A figura delineada no barranco com terra
e raízes talvez chamasse atenção apenas como curiosidade se não estivesse dentro
de um cemitério. É como se fosse materialização de algo que supomos pertencer
ao mundo dos espíritos com força para imprimir sua imagem numa superfície real.
A vista enxerga um busto imperfeito e tosco enquanto que a expectativa de se
ver um “fantasma” encarrega-se de
completar o desenho de uma mulher. O cenário do cemitério fecharia o ciclo do
imaginário, induzindo-nos a ver como evidente algo aleatório.
Contudo, á luz da parapsicologia e da
espiritualidade os três episódios poderiam trazer á presença do sobrenatural. Usando-se
a classificação das aparições proposto pela jornalista e parapsicóloga Elsie
Dubugras (São Paulo, 1904 – 2006) seria possível dividir os casos em quatro
categorias: efeitos auditivos; efeitos visuais; efeitos sensoriais e fenômenos
objetivos e subjetivos. O caso da motocicleta, quando Arnaldo se sentiu tocado
fisicamente, além do peso extra na garupa seriam efeitos sensoriais, objetivos
e subjetivos que se manifestaram á presença de um médium. Reportando Alan Kardek
(Lyon, 1804 – Paris, 1869) que os definiu como pessoas dotadas de faculdades
especiais capazes de materializar fenômenos sobrenaturais, o motociclista
Arnaldo poderia ser um médium que ao passar pelo cemitério, compreendido como
local propício á formação de “caixas de ressonâncias”, impregnado de energias
desprendidas por sentimentos de perda e sofrimento, pôde materializar um corpo
subindo á garupa, abraçando-o, e em seguida desaparecendo assim que ele saiu da
área de abrangência destas energias.
O caso dos sapatos apertados compreende
uma leitura análoga, porém com importante diferencial: a casa onde viveu a
senhora Matilde, aparentemente era a mesma que vivia sua família, assim estaria
impregnada da sua presença; e isto pode ser entendido como uma espécie de
ressonância da sua vida física. Se algum membro de sua família fosse um médium,
ele poderia materializar sua presença através de fenômenos auditivos percebidos
sob a forma de queixas pelos sapatos apertados, que poderia ter sido um
queixume da própria senhora Matilde em vida.
O pesquisador Roger Laffororest (Paris,
1905 – 1998) afirmava que o próprio homem poderia produzir vórtices de energia,
e que tais fenômenos seriam a manifestação disto, influenciando o ambiente; e
lembrando que espíritas acreditam que almas penadas poderiam interagir com
médiuns, enquanto que os espiritualistas não creem na ação direta de espíritos
dos mortos e sim numa espécie de ação residual das suas vidas, mas sem espírito.
Então poderíamos supor que, em ambos os casos, realmente ocorreram materializações de fenômenos sobrenaturais.
O caso da figura feminina na encosta do
barranco do cemitério poderia ter ocorrido algo semelhante. Há teorias
defendidas por espíritas e espiritualistas de que a passagem do tempo é
percebida de modo diferente pelos espíritos desencarnados possivelmente por que
sua existência ocorreria numa espécie de dimensão paralela. Assim, cem anos da
nossa dimensão poderiam ser percebidos pelos espíritos como apenas alguns
instantes. Se de alguma forma, um espírito desencarnado permaneceu naquele
local, próximo ao seu corpo sem compreensão de que morreu, ou ainda que o
sofrimento e a dor desprendida por algum ente querido foi tão intenso. isto
poderia ter deixado vestígios delineados nas raízes da árvore num efeito visual
permanente.
Fotos: Ramón Brandão.
Referências bibliográficas:
KARDEK, Allan, Revista Espírita, p. 105
– 112, 1864; citado por DUBUGRAS, Elsie, As Casas Assombradas, Fronteiras do
desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero
147/-A, p. 21, dezembro de 1984.
DUBUGRAS, Elsie, Toques e sons
Paranormais, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de
Comunicação Três Ltda., numero 145/-A, p. 11 – 15, dezembro de 1984.
LAFFOROREST, Roger, Casas que Matam,
citado por: MACHADO, Adilson, PIRES, Iracema, Paredes com Memória, Maldições
antigas e Radiações Telúricas, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação
Três Ltda., numero 77, p. 28 – 33,
fevereiro de 1979.
O passageiro não identificado. Casos malditos,
Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 15, p.
6, novembro de 1976.
1– (cf) Cemitério: Grande Enciclopédia
Larrousse Cultural, São Paulo, Nova Cultural Ltda, 1998, volume 06, p. 1285.
2 – Um destes programas radiofônicos foi
o “Incrível, fantástico, extraordinário” transmitido pela Rádio Tupi do Rio de
Janeiro. A série se dedicava ao relato de histórias fantásticas enviadas pelos
ouvintes. Os casos chegavam de todo o Brasil e eram roteririzados por José
Mauro e Cesar de Barros Barreto e narrados por Almirante, com participação de
rádio-atores e arranjos especiais da Orquestra Tupi regida pelo maestro Aldo Taranto.
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