sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

"eu ouço gente morta!"


Margot se preparava para se deitar repetindo o ritual de colocar um fone de ouvidos conectado à um iPod com uma seleção de musica clássica, jazz, MPB ou qualquer melodia suave. Na verdade ela preferiria o silêncio da noite á qualquer som, mas só assim conseguia dormir, e se perguntava até quando precisaria daquilo; parafraseando aquele garoto do filme que dizia: “eu vejo gente morta!”, só que a sua frase era: “eu ouço gente morta!”.
 Tudo começou no dia que alugou uma casa antiga e passou a ser perturbada pelo espírito de uma mulher que o marido assassinou e escondeu seu corpo atrás de uma falsa parede. A morta atentou Margot até conseguir que a encontrasse para assim a libertar!  Depois disso o seu sossego é que acabou. Descobriu que era médium e passou a ser, por assim dizer, assediada por todo tipo de espírito em busca de ajuda, sempre após a meia noite. Alguns pedidos eram totalmente sem noção, como: “Diga ao meu gatinho que a ração está na prateleira de baixo no armário!” Ou então: “Estou preso aqui em baixo, me ajude!” E este era o tipo que trazia mais frustração porque nem sempre ela descobria á que se reportava. Até detetives passaram a procurá-la em auxilio á investigações! Um belo dia ela disse “chega”, e como era funcionária do Estado, não foi difícil conseguir transferência de Belo Horizonte para Juiz de Fora. Por pouco não mudou de nome também!
Agora vivia num apartamento quitinete no bairro São Mateus e fazia de tudo para ficar longe de qualquer coisa minimante sobrenatural. O fone de ouvido era a maneira encontrada para abafar o falatório dos espíritos.
Era inicio de madrugada e ela estava quase adormecendo ouvindo “Blue moon” na voz de Ella Fitzgerald, quando pareceu ter escutado choro de criança. – Não é possível! – irritou-se, mas prestou atenção, tirou o fone e não parecia nenhum espírito e sim uma criança chorando de verdade, e vinha do corredor do prédio. Ao espiar no olho mágico viu um menino agachado com sua cabeça baixa chorando e encostado á porta do apartamento ao lado. Era o filho da vizinha.
Margot abriu a porta: - Oi garoto!
Ele a olhou e imediatamente pediu: - Me ajuda moça? – ela chegou perto e se agachou: - Sim, o que aconteceu? – ele disse: - Minha mãe,... Eu preciso saber a onde ela está!
 - Como você se chama?
 - Júnior!
 - Eu sou Margot. Diga o que aconteceu Júnior?
- A minha mãe arranjou um namorado que bate nela! Um homem mau que ela conheceu numa festa e gostou dele; eu não gostei! No começo ele tratava ela bem, mas depois começou a maltratar e ela quis acabar o namoro. Ele não aceitou e começou a bater nela! – Margot ouvia-o consternada. – Mamãe pediu ajuda na polícia e um moço de lá mandou ele ficar longe! Hoje quando eu voltei do colégio, não tinha ninguém em casa, e o homem telefonou pra ela dizendo que queria pedir perdão e conversar. Mamãe saiu com ele e eu não queria que ela fosse! Agora ela sumiu.
- Como se chama sua mãe?
- Danielle Arruda Santos! Quando eu voltei do colégio, não tinha ninguém em casa.
- Você não pode entrar na sua casa? – ele respondeu: - Não tenho a chave! Por favor, me ajuda! – começou a chorar: - Ele chama Wesley e vai matar a mamãe!
Margot o confortou: - Eu vou te ajudar!... – e lhe estendeu a mão. – Venha para minha casa! – Júnior a seguiu ao seu minúsculo apartamento entrou e ela ficou uns segundos sem saber o que fazer até o menino falar: - Liga pro policial que ajudou a gente!
Ela pensou: - Aposto que foi na Delegacia da Mulher. E perguntou: - Você sabe o nome do policial que a ajudou?
- É Arquimedes! Liga pra ele moça! – Margot apanhou seu notebook,  e logo estava conversando com uma atendente explicando a situação, mas ela disse que não podia fazer nada á àquela hora. Então Margot perguntou: - Aí tem um policial chamado Arquimedes? – a atendente respondeu afirmativa e passou a ligação. – Boa noite; detetive Arquimedes na linha. Estou falando com quem, por favor? – Margot explicou o que estava acontecendo e o policial lhe disse que Wesley era um sujeito violento com denúncias de agressão á mulheres, e completou: - Ocorre que a senhora Danielle fez a queixa num dia e voltou no outro para retirá-la. Nós não poderemos fazer nada até pelo menos vinte quatro horas do seu desaparecimento. – Margot olhava o garoto e respondeu quase sussurrando: – Mas senhor Arquimedes, vinte quatro horas é tempo demais!... A mãe dele pode ser abusada e até,... – não quis falar a palavra. O policial então respondeu: - Olhe senhora Margot: o que posso fazer é verificar se ela deu entrada em algum hospital ou no IML. Infelizmente, se ela desapareceu por volta de uma da tarde, e agora são quase uma e quarenta da noite, é uma hipótese á ser considerada. – Margot se assustou, mas aceitou, e como ele estava de plantão combinaram manter contato caso houvesse alguma notícia e de manhã levariam o caso á delegada. Ela agradeceu e desligou.
Júnior escutou-a: - A mamãe tá morta e não querem me falar!
Margot o acudiu: - Não!... O detetive Arquimedes vai encontrá-la!
- Não vai! Ele não sabe onde ela está. – soluçava ao dizer: - Precisa saber onde ela está e levar a polícia lá!... – e se jogou no travesseiro chorando.
Ela o confortou: - Daqui a pouco o detetive vai ligar. Você vai ver!... Não chore. Eu vou ficar aqui com você! – ele se aninhou no seu colo.

 Passava das duas horas da manhã quando o telefone tocou: era Arquimedes falando que não havia registro da sua entrada em nenhum hospital, mas haviam encontrado o corpo de uma mulher negra sem documentos e abandonado ás margens do Rio Paraibuna, muito mutilado, que se adequava ao biótipo de Danielle. Houve um silêncio ensurdecedor até Arquimedes falar. – Estou esperando alguém me render aqui para seguir até ao IML e tentar identificá-la. É o que posso fazer. – Margot agradeceu, desligou e ficou extremamente angustiada ao olhar o rostinho de Júnior, adormecido, mas ainda com marcas das lágrimas á face. – Meu deus,... Não posso ficar aqui sem fazer nada!
Ela relutou por alguns minutos até falar para si: - Ah, mas que droga!... Não tem outro jeito! – com cuidado para não acordá-lo, Margot seguiu ao banheiro e fechou porta. Sentou-se numa banqueta, cerrou seus olhos, se concentrou e falou: - Vocês é que sempre me procuram com pedidos, que eu atendi na medida do possível!... Agora sou eu que peço socorro, não para mim, mas para esse garotinho ao qual posso sentir todo o medo que emana do seu espírito!... Portanto eu imploro: alguém aí do plano espiritual, me ajude! – passaram-se longos quinze minutos e nada. Ela olhava para os lados sem resposta alguma. – Meu deus,... Será que, como disse um psiquiatra, é tudo loucura da minha cabeça?
Mais dez minutos, e vencida pela frustração ela lamentou: - Como eu imaginei,... Nunca houve nada e o medico tem razão: sou esquizofrênica. – então saiu do banheiro com o coração apertado e foi á cozinha beber água. Quando enchia o copo, escutou uma voz. – Olá? – ela quase deixou o copo cair e olhou para os lados na busca da certeza: - Quem é?... Quem é? – escutou uma risada: - Não reconhece mais a voz de uma amiga? – Margot recordou da noite que encontrou o corpo de Silvia emparedado. Ela colocou uma bolinha de gude no meio da copa e ela rolou na direção da parede falsa onde seu cadáver estava escondido. – Silvia é você? – ela respondeu: - Sim. Sou muito grata por ter me libertado, mas não iria me apresentar num banheiro!... Eu era uma mulher muito fresca em vida, e acho que aqui, no outro lado, não tomei jeito! – Margot sorriu: - Graças á deus! Eu preciso de ajuda. Quero saber onde está uma pessoa,... Se ela está viva. É possível? – Silvia respondeu: - Querida; aqui nós não somos interligados como numa rede social, não é assim! – decepcionada: - Então, não dá? – a resposta: - Desta maneira infelizmente não. Mas,... Podemos tentar algo: você conhece bem a pessoa que quer saber onde está? – Margot: - Sim, é minha vizinha de porta! – Silvia: - Então, imagine a figura dela o máximo que poder, com todas as forças da sua mente! – Margot fechou os olhos e lembrou-se das vezes que viu Danielle: uma negra alta com cabelo afro, muito sorridente. Depois de vários minutos sem resposta, Silvia falou: - É pouco!... Precisa que você toque em algo que ela tenha tocado muito! – abanando a cabeça Margot respondeu: - Eu teria que entrar na casa dela, e está trancado! – a resposta: - A maçaneta da porta; ela deve tê-la tocado dezenas de vezes. Lembre-se que você é a peça chave para isto dar certo! – rapidamente ela saiu ao corredor do prédio e segurou firme a maçaneta, e logo sentia arrepios pelo corpo e um tremor. Então começou a formar uma imagem na sua mente: uma sala; um sofá; a silhueta de um homem corpulento segurando uma mulher pelo braço, sacudindo-a enquanto ela rogava: “me deixe ir embora... Acabou, vê se entende”. O homem a esbofeteou e gritou: “ainda não entendeu que nada acabou e você é minha?” empurrou-a na cama e tentou fazer sexo á força. – Margot ficou horrorizada e falou voltando do transe: - Que nojo esse,... Animal! – já ia soltando a maçaneta quando Silvia falou: - Não a solte ainda, agora tente ver á onde eles estão! – com toda a força da sua mente, Margot se concentrou e se viu caminhando num lugar estranho, com carros desmontados; era um ferro velho. Ela andou mais um pouco e viu uma piscina cheia até o meio com água suja tendo varias carcaças de carros em volta, e mais nada. Então, exausta ela voltou do transe e se sentou no chão. – Que lugar é aquele?... Um cemitério de automóveis com uma piscina no meio? Isto não existe. - Silvia falou: - Não é porque você nunca o viu que o lugar não existe. E a moça está lá! – ela respondeu: - Tem razão,... E sei quem pode me dizer á onde é!
                  
Arquimedes acabava de escutar a explicação de Margot pelo telefone e falou: - Deixe ver se eu entendi direito. A senhora entrou num transe mediúnico e conseguiu ver o lugar á onde a senhora Danielle está!... É isto?
- Exatamente!... O Wesley a sequestrou e a mantém em cárcere! É um sujeito repulsivo e violento,... Vai matá-la! O senhor precisa ir lá junto com um pelotão de policiais!
- Um momento,... Lá aonde?
- Nesse lugar que eu falei; que tem carros abandonados em volta de uma piscina!
- Mas a senhora sabe onde é?
- Eu já não disse que não sei?... As mensagens dos espíritos não vêm com endereço!... Estamos perdendo tempo, ela corre perigo!...
- Espere, espere senhora Margot: precisaria ter uma denúncia para podermos agir!
- Então eu estou fazendo a denúncia!
- Não é assim,... Uma denúncia sem descrição do lugar onde estaria ocorrendo o delito, nós não teríamos como averiguar. Posso registrar um boletim de ocorrência do desaparecimento da senhora Danielle,...
Margot interrompeu: - Eu não sou uma doida que tem delírios!... Estou falando sério; ela está correndo perigo eminente de vida e eu sei á onde ela está. Daqui a pouco será tarde demais!... Alô, senhor Arquimedes?
Ele retornou: - Desculpe, é que eu encontrei o boletim lavrado às seis da tarde notificando desaparecimento da senhora Danielle. Foram seus colegas do trabalho que alertaram.
- Está vendo senhor Arquimedes, eu estou falando a verdade!... O senhor sabe a onde é este lugar que eu descrevi! – blefou: - Sou médium, e estou vendo que o senhor sabe!
- Está bem, eu sei! Há um desmanche de carros abandonado situado na BR-040 que tem uma piscina em ruínas, perto do Mirante!... Mas mesmo assim, não posso designar uma patrulha baseado numa premonição...
- Bem, estou vendo que não dá para contar com a polícia sem ter a informação exata! Eu vou lá conferir e então faço a denuncia!...
- Não faça isto senhora!... É perigoso, pode ter viciados e ladrões por lá!... Ah, está bem, me dê seu endereço e espere na porta que passo aí. Vamos os dois! - ela deu o endereço e se preparou para sair. Antes chegou perto de Júnior que estava acordado e disse: - Vai salvar minha mãe! Eu fico quietinho aqui esperando. – Margot se surpreendeu com a atitude do garoto e antes de sair lhe deixou um telefone recomendando que ligasse á qualquer problema ou notícia de sua mãe. Ele concordou e se aninhou mais ainda no cobertor.

Chegaram rápido ao local na beira da rodovia. Havia um portão quebrado e por trás um terreno repleto de carros acidentados muito destruídos já tomados pelo mato. Arquimedes certificou-se de estar vazio e seguiram a diante. Era um cenário assustador á luz da lanterna do policial e Margot caminhava olhando em torno; estava confusa. Em instantes se aproximaram de um buraco quadrado no chão com bordas azulejadas em ruínas e cercado de carcaças de todo tipo de veículo, inclusive dentro da piscina.
- E então senhora Margot: onde é?
Ela olhou em volta, pôs as mãos na cabeça e disse. – Não sei!... O lugar que eu vi não era assim! A piscina não estava tão arruinada e tinha água dentro!... Não é aqui, não é aqui!
Arquimedes passou as mãos nos cabelos curtos e falou: - Tudo bem! Realmente não há nenhuma construção em volta: só esse monte de sucata!... Vamos embora!
De volta no carro ela não se conformava: - Eu vi!... Não é loucura, eu vi! - Arquimedes tentava acalmá-la: - Tudo bem. Nós tentamos né? - Ela prosseguia: - Eu vi!... Era uma piscina grande com água suja até o meio. Parecia que tinha umas casas atrás!... Meu deus do céu, eu não sou louca! – Margot disse isto no momento que passavam diante do Mirante da BR-040. Então Arquimedes parou. – Será que?... – e deu ré para entrar numa estradinha que saia por trás de um bar e seguia num declive: - Aqui na frente tem um condomínio fechado que está vazio e tem uma piscina! - em minutos começaram a aparecer carcaças de carros abandonadas dos lados da estradinha. – Olhe só: um desmanche de carros roubados! – explicou, e Margot falou. – Foi isto que eu vi! – olhou adiante e apontou. – Pare aqui, pare aqui! – mal o carro parou para ela saltar e correr a diante. Arquimedes até se assustou: - Espere aí,... Sua maluca! – e saiu correndo atrás.
- É aqui! – ela parou diante de uma grande piscina que ainda continha uma lâmina de água suja no fundo. Em torno havia mais carcaças de carros. – É aqui, ela está aqui!
Arquimedes tapou sua boca e pediu silêncio apontando á uma casa mais longe que estava com luz acesa. Tinha uma camionete nova parada na entrada. Ele recomendou á Margot, sussurrando: – Eu vou até lá. Vá para o carro e espere. Se acontecer alguma coisa, toque a buzina, está bem? – ela concordou e ele seguiu até a casa, mas antes pediu que enviassem uma patrulha á aquele local, com urgência.
Devagar, Arquimedes se aproximava da casa tomando cuidado para não fazer barulho, pois havia entulho e cacos de vidro na calçada, e ouviu uma voz: era Wesley que gritava. – Você acha que é boa demais para mim, é isso? – ele olhou pela janela e o homem segurava Danielle pelo braço. – Acabo com você e o catarrento do seu filho! – e tentou esganá-la, e esta foi á deixa para Arquimedes chutar a porta e entrar com sua arma em punho: – Afaste-se dela! É a polícia! - ele respondeu, largando-a no sofá: - O que é isso? Estamos só conversando! – ainda apontando a arma ele ordenou: - Coloque as mãos para o alto e se deite no chão, agora! – cínico Wesley falava: - Qual é doutor. É só uma conversinha com a minha noiva. – riso. – Sabe como é? Tem hora que a gente precisa mostrar quem manda! – Arquimedes ordenou novamente: - No chão, e coloque as mãos para trás! – ele obedeceu e se deitou. O policial se aproximou apanhando as algemas que trazia no bolso do casaco e pôs o joelho nas costas de Wesley preparando-se para algemá-lo. Porém, ele era um homem grande e forte que se levantou num arranco, se virou e segurou a mão armada de Arquimedes enquanto lhe aplicava um soco na barriga. Lutaram, e ele conseguiu lhe desferir um golpe no rosto com um “soco inglês”, fazendo-o perder a arma. Atordoado o policial caiu no chão enquanto Wesley se abaixou para pegá-la: - Perdeu play boy, perdeu! – riu enquanto lhe apontou a arma: - Tu não sabe que briga de casal ninguém se mete? Pera aí: é o policialzinho da delegacia das Mulher! – Arquimedes o olhou ainda zonzo com sangue escorrendo do nariz enquanto Wesley se preparou para atirar: - Vai ser menos um filho da puta no mundo! – então se ouviu uma voz: - Ei gostosão. Olha pra cá! – Wesley se virou e deparou com uma figura estranha se aproximando: - Que porra é essa? – a figura respondeu: - Meu nome é Ângela e sou a realização dos seus sonhos! – e apontou Danielle desacordada num sofá velho: – Você nem gosta de mulher, baby, e é por isso eu vim aqui só pra você! – era um travesti que foi chegando perto. Wesley o ameaçou: - Sai fora, seu viado!... Eu atiro! – a figura respondeu: - O que é isso, fofo, nós dois sabemos do que você gosta. Se achegue comigo! – assustado e confuso Wesley atirou contra a figura e nada aconteceu: - Assim eu fico magoado, sabia? – chegou mais perto. – Já vi tudo: é mais um enrustido covarde igual ao que me largou aqui! – o homem deu vários passos para trás depois de atirar mais vezes.
Então, já refeito, Arquimedes aproveitou para atacá-lo agarrando-o pelo pescoço e derrubando-o. Wesley perdeu a arma e o policial lhe deu socos na cabeça, atordoando-o e algemando-o á uma grade. – Obrigado amigo. – falou olhando a figura, que parecia estranha e flácida enquanto Margot estava parada á porta com sua boca aberta de onde saía uma espécie de cordão branco ligando-a á figura, que colocou as mãos nos quadris e disse: - De nada querido! Acho que agora está tudo resolvido por aqui. – e se desintegrou como que se derretesse. Wesley começou a voltar a si e Arquimedes apanhou sua arma e apontou para ele. – Quieto aí. Acabou! – estranhamente o homem abaixou a cabeça no chão e começou a chorar. O policial correu até Margot que estava estática com os olhos virados para trás. – Senhora?... Margot? – ela pareceu voltar a si, e disse. – Héim?... O quê? – olhou em volta. – Como vim parar aqui?
- Eu é que pergunto... Não mandei ficar no carro?
- Eu não sei o que aconteceu,... – olhou-o: - Você está sangrando! – ela viu Danielle gemer ferida no sofá e correu para acudi-la: - Sou sua vizinha, Margot; como você está? – com dificuldade, perguntou: -... Cadê meu filho? – ela respondeu: - Ele está na minha casa,... Não fale,... Agora está tudo bem! – Arquimedes a olhava totalmente perplexo. - Não fique aí parado, chame a ambulância para socorrer Danielle!
- Ah, sim,... Claro! – Arquimedes apanhou o telefone para chamar o socorro.
 Margot confortava Danielle quando ouviu a voz de Silvia: - Garota, você é boa!
- Do que você está falando, boa no quê? – sussurrou.
- Não seja modesta, você é uma maga! Conseguiu materializar o espírito com ectoplasma para enganar esse brutamonte! Se eu tivesse matéria, ficaria absolutamente arrepiada. – riso.
- Ainda não entendo do quê está falando,... Ectoplasma?
- É a substância que os médiuns produzem com o próprio corpo para materializar os espíritos!... Depois explico. E diga ao seu amigo policial para fazerem uma busca por aqui. Tem um cadáver enterrado em algum lugar. – suspiro: - assassinado e escondido, como aconteceu comigo.
 O socorro veio e levaram Danielle ao hospital. Wesley foi levado preso; suspeitava-se que era também um ladrão de carros que usava aquele local para desmanche.
Arquimedes ficou impressionado com o que viu, e disse que se empenharia em vasculhar aquela área em busca de algum cadáver escondido.
Amanhecia quando Margot entrou na sua quitinete: - Júnior!
 O garoto se levantou rápido já perguntando: - Cadê minha mãe?
- Ela está bem! Teve que ir para o hospital, mas já está medicada e bem!
- Eu quero ver ela!
- Sim, vai ver! Mas antes eu vou levá-lo á casa de uma amiga da sua mãe chamada Maria, que vai ficar com você até ela poder voltar pra casa!
- E o homem mau?
- Está preso na cadeia, não precisa mais ter medo dele! Sua mãe disse para você pegar roupas, escova de dente e seu material escolar, a chave da sua casa está aqui.
 Ele a abraçou. – Obrigado, á você sua amiga!
- Amiga?...
- Essa dona que está aí do lado! Vocês é um casal que moram juntas aqui?
Margot ouviu a gargalhada de Silvia e respondeu: - Somos só amigas! Agora se apresse porque Maria está esperando. – Júnior saiu correndo e Silvia falou: - Essas crianças de hoje! Ele pensou que somos um casal homoafetivo, hilário!
- Espere um pouco: como ele pode te ver e eu não?
- Não sei, crianças enxergam coisas que adultos não conseguem. Vai ver que você é desses médiuns que só ouvem,... E também produz ectoplasma!
- Mas, se eu a libertei, por que ainda está aqui no plano físico?
- Ahn,... Disseram que sou um espírito de luz, mas preciso ficar ainda um tempo na terra fazendo o bem para purificar meu carma. – riso. - Está certo. Fui uma menina muito má quando viva! Hei Margot: fazemos uma boa dupla, e quem sabe se chamarmos aquele policial para fazermos um trio, ninguém ia poder com a gente! O que me diz?
Margot só olhou para cima e disse:
- Oh deus!...

Fim

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