Em
1978 um motorista de taxi chamado Messias possuía um automóvel Volkswagen
Passat quatro portas que usava na praça. Era um homem de meia idade e muito
desconfiado principalmente de histórias de fantasmas.
Sempre
que ouvia casos de aparições sobrenaturais ou relatos de coisas se movendo
sozinhas, ele dizia: - É tudo ilusão da mente ou da cachola cheia de birita! –
seu amigo Ramón retrucava: - Não é não! Você nunca ouviu o ditado que diz que
há mais coisas entre o céu e a terra do que crê nossa vã sabedoria? – ele riu:
- O que tem entre o céu e a terra são as prestações deste carango para pagar,
meu chapa! – riso: - Me deixa ir trabalhar que o dia é longo e a grana curta!
Naquele
começo de tarde ele chegou ao ponto de táxis da Rua São João Nepomuceno com
Avenida Presidente Getúlio Vargas, no Centro de Juiz de Fora, e ficou olhando
uma aglomeração em frente ao bar que existia logo na esquina, na avenida. Ele
abanou a cabeça pensando: “Mais uma briga no boteco. Tem gente que não sabe
beber!”. Já ia até lá saber o que estava acontecendo quando alguém abriu a
porta traseira do seu carro: era uma senhora elegante com um garoto.
- Boa tarde senhora! – já foi acionando
o taxímetro. – Para onde vamos? – ela respondeu: - Vamos para a Praça das
Caveiras! Sabe aonde é?
- Sim senhora! – e saiu com o carro. – o menino
fez careta e falou: - A praça não chama Praça das Caveiras. Chama Praça da
República! - ela o olhou e se dirigiu á Messias: - Ei motorista; eu por acaso
perguntei á esse fedelho qual era o nome da bendita praça?
-
Eu não ouvi perguntar,...
-
E por acaso quando eu disse “Praça das Caveiras” você não sabia á que praça eu
estava me referindo?
-
Sim senhora,... Eu entendi.
-
Viu? Ele entendeu. – falou olhando o menino, que retrucou: - Mas o nome é Praça
da República!
-
Cala a boca e vê se não me cansa seu pirralho! – concluiu.
Messias
achou graça daquele diálogo e seguiu rumo á praça, conhecida popularmente como
“praça das caveiras” por que na década de 1950, quando fizeram obras de
remodelação, encontraram várias ossadas enterradas em valas coletivas. Depois descobriram
se tratar de pessoas que morreram vítimas da gripe espanhola de 1918, e foram enterradas
naquele lugar porque não houve tempo de sepultá-las no Cemitério Municipal logo
em frente da praça. Diziam que o lugar era assombrado por isto. Messias dizia
que aquilo era pura lenda e que o perigo da praça não eram os mortos, mas os
vivos!
Logo
chegava á Rua Espírito Santo que dá acesso á praça, e adiante viu seu amigo
Ramón do outro lado que lhe gritou: - Pare, preciso falar com você! – ele
respondeu: - To com passageiro! – mostrando o banco traseiro com o polegar, e
seguiu. Mas teve que parar mais á frente no início da Rua Osório de Almeida por
causa de um caminhão manobrando. Irritado e sem olhar para trás ele reclamou. –
Veja só senhora, esses motoristas de caminhão pensam que são donos da rua,...
Sai daí meu irmão! – o caminhão saiu e ele pôde seguir. Mais adiante passou
pelo portão do Cemitério Municipal e contornou a praça perguntando: - Qual o
número senhora? – não houve resposta e Messias olhou pelo retrovisor interno do
carro. Não viu ninguém e parou o carro; se virou e o banco traseiro e estava
vazio. – Mas o quê...? – ele percebeu que a porta traseira direita do carro não
estava fechada direito. – Olhe só! Aproveitaram que eu tive que parar por causa
da merda do caminhão, e deram no pé. Pô, não dá mais pra confiar em ninguém? –
contrariado, ele fechou a porta, entrou no carro e retornou ao Centro da
cidade.
Novamente
Messias estacionou o Passat no ponto da Rua São João, e saiu do carro. A aglomeração
continuava na esquina e ele resolveu conferir o que era. Ramón veio ao seu
encontro: - Hei cara; precisava falar com você, por que não parou?
Ele
andava na direção da esquina, próximo á aglomeração e viu um Ford Maverick preto
com o capô amassado, e pensou: “Ih, foi uma batida!”.
Ramón
insistiu: - Era um freguês querendo corrida para o Rio!
Ele
se aproximou do acidente respondendo: - Eu estava com passageiros, você não
viu? - ao olhar o asfalto, Messias viu que tinha sido um atropelamento. Ramón
respondeu: - Não! Eu só vi você no carro!
No
chão estavam estendidos os corpos daquela senhora elegante e do garoto que a
acompanhava. Mortos no atropelamento.
Espantado,
ele ficou mudo e voltou ao seu carro no ponto; e no decorrer de todos esses
anos, outros motoristas relataram o mesmo episódio: sempre ás 15:25min.
Fim.
Muito bom!
ResponderExcluirObrigado
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