quinta-feira, 26 de março de 2020

JAMPA


CONTINUAÇÃO:


SEGUNDO CAPÍTULO: A PRAIA.

No dia seguinte Tom decidiu ir ao hotel onde Ciça estava hospedada, disposto a arranjar um quarto para seus encontros. Tinha alugado um buggy para passear com ela, mas não conseguiu fazer isto uma única vez e o empecilho era sempre Teca!
Ao chegar á entrada do hotel o ímpeto de entrar arrefeceu ante a possibilidade dela não aprovar. Isto não poderia ser assim, então procurou seu celular para perguntar quando ouviu uma voz conhecida: - Rogério? Meu Deus; o mundo está muito pequeno mesmo, ou nossa senhora da coincidência está de plantão hoje para eu encontrar aqui, em Jampa, meu vizinho do lado! – era Teca e ele ficou sem saber o que dizer naquele flagrante. - Pois é!... Muita coincidência! – ela abriu um largo sorriso, e disse: – Estou viajando com a Ciça. Viemos conhecer Jampa! E você Rogério, o que está fazendo aqui; passando férias? – ainda constrangido, ele respondeu: - Não exatamente. Tive uns dias de folga e resolvi conhecer um pouco do Nordeste. Acabei escolhendo João Pessoa, ou Jampa como eles gostam de falar.
- Por que Jampa, você sabe?
- Sim: foi inspirado em “Sampa”, de São Paulo. Então ficou “Jampa”, de João Pessoa! – ela continuava sorrindo. – Que poético, amei! Não me chame de Celeste, não combina com isto aqui. Chame- me de Teca, aí eu te chamo pelo seu apelido: Tom! – surpreso: - Uai,... Como você sabe? – ela aproximou: - Ah, moramos na mesma rua e os vizinhos comentam. E este buggy; é seu? – ele alisou o volante: - Eu aluguei para poder passear no estilo praiano. – ela olhou o carro: - Ah que máximo! Você está sozinho aqui? – a resposta:- Erh,... Sim, estou viajando sozinho. – ela tombou a cabeça ao perguntar: - Hum,... Seria abusar te convidar para um chope? Olhe só: você conhece a praia de Tambaú? Disseram que é linda e tem quiosques no calçadão! Vamos? - ele pensou: “É melhor sairmos daqui; se a Ciça nos vê juntos, vai ficar muito ruim!” E respondeu: – Suba aí! Vamos! - Ela entrou no buggy; estava de short jeans e camisa de seda amarrada no abdome. Dava para notar o sutiã do biquíni sob a camisa. Calçava chinelos de borracha e trazia uma minúscula bolsinha tiracolo azul com apliques de miçangas. - Estou admirada de ver você assim todo à vontade, camisa de surfista aberta no peito, até mostrando uma tatuagem; com bermuda e chinelo de dedo! – ele riu. – Se eu viesse de colete da polícia, calça comprida e camisa social toda abotoada iam ficar meio estranho, né? - ela gargalhou. – Com certeza! – levantou os braços e uivou. - Uuuuuuuuuuh! - ele o fez também.

Um pouco mais tarde Teca e Tom conversavam á mesa de um quiosque no calçadão de Tambaú. Ela falava sobre o passeio no Engenho do Patrocínio com entusiasmo. -... A capela é maravilhosa, cara! Tem a planta sextavada e o portal é todo esculpido em granito; história pura! - Tom falou: – Estive lá também! – ela fez expressão de dúvida: - Você curte esse lance de arquitetura antiga? – ele sorriu: - Ah,... Um pouco. Mas não conheço nada, só gosto! – ela disparou: - A Ciça detesta! – riso. – Ficou fazendo de conta que gostou, mas eu sei que ela detestou com força aquele passeio, e ficou louca para irmos embora depressa. Acho que ela tem um namorado escondido por aqui! – surpreso; Tom perguntou. – Ora,... Por que você acha isto?
- Uma mulher conhece a outra e a Ciça dá muita bandeira! Mas se quer saber; não estou nem aí, e acho uma bobeira dela esconder isto de mim!  – Teca pôs as mãos no colo e perguntou: – Eu estou com biquíni por baixo, você se importa se eu tirar a camisa?
- Não,... Estamos na praia, né? - quando ela desatou o nó, surgiu um par de seios pequenos, mas perfeitos dentro dos bojos do biquíni preto, e isto causou um inicio de excitação, que ele procurou disfarçar.  
- Lá em Minas eu sou tão reprimida! Tudo que falo, penso e faço é alvo de censuras por parte de Ciça. – ela buscou sua mão na mesa. – Olhe Tom; eu me sinto na obrigação de te pedir desculpas pelos vexames que eu e Ciça fazemos você passar! Nossas discussões já extrapolaram por completo os limites da nossa casa.
- Não é tanto assim!
- É sim; eu sei! Você mesmo já teve que nos apartar antes que chegássemos ás bofetadas em público! Tenho que reconhecer que eu e Ciça juntas somos dois vexames ambulantes.
- Bem; já que tocou no assunto, sem querer ser intrometido: eu gostaria de perguntar qual a razão de tanta discussão? 
- A casa! Aquele lugar foi herança do nosso pai, juntamente com um sobradinho lá no fim do mundo. Quando papai morreu eu era menor e Ciça ficou como minha tutora e inventariante. Acontece que ela e o advogado fraudaram os valores dos imóveis, colocando a nossa casa num bairro bom e aquele sobrado perto duma favela com o mesmo patamar e fizeram uma partilha boa para ela, que ficou com a casa da vila, e eu com o sobrado! Quando eu fiquei adulta descobri a sacanagem e entrei na justiça, mas o advogado dela era bom de serviço e eu perdi. Agora ela está doida para me pôr pra fora; sabe por quê? Quer enfiar um homem lá dentro e não me quer ver por perto! Ela pensa que não entendi que essa viagem é para me amolecer e eu concordar em deixar o terreno livre para ela! – socou a mesa. – Eu odeio aquela casa, mas não vou deixar tudo pra ela!
Tom até arrepiou, mas resolveu aproveitar o ensejo. – Mas se você não gosta de lá, porque fica brigando com sua irmã por causa de uma coisa que você, no fundo, parece que não quer?
- É por que acho isto um desaforo!
- Pois é este o ponto: desaforo para quem?
- Desaforo para a Ciça que me roubou, e não posso fazer nada!
- Então você se submete á uma convivência que não quer com sua irmã, numa casa que odeia, só para fazer um desaforo?
- Não é simples assim Tom! Não posso deixar barato!
- E você acha que está ficando caro para quem? Olhe bem o que você me falou sobre as brigas que a envergonham e até me pediu desculpas! - ela olhou-o interrogativa.  – Pense no tempo que você está perdendo nesta pendenga? Está valendo a pena, de verdade?
– Eu sei que não está, mas não consigo evitar! – bebeu um pouco se acalmando: - Puxa vida; nunca imaginei que ouviria essas coisas de você Tom. – ele esboçou um sorriso: - Por quê? Por acaso eu lhe pareço rude e insensível?
- Não,... Quero dizer: insensível não, mas,... Um pouco másculo demais para essas palavras carregadas de sensibilidades. – ele riu: - Másculo? Tomo isto como elogio! - Teca também riu e olhou o mar. – Acho que para nós, mineiros, ás vezes as montanhas não nos deixam ver os horizontes mais adiante, e quando vemos o oceano, esses horizontes nos assustam um pouco! - ele suspirou também observando o mar. – É verdade. – ela falou: - Vou te pedir uma coisa: no final desta praia tem umas formações rochosas lindas! – Teca apontou, e ele olhou. – Eu queria ir lá conhecer, mas não queria ir sozinha. Você quer ir comigo? Vamos caminhando pela praia. – riso. – Mineiros não têm isto todo dia! – ele sorriu dizendo: – Tem razão! – levantou o dedo pedindo a conta.
Os dois caminhavam lado a lado com os pés molhando no finzinho das ondas, fazendo comentários sobre Jampa, e Teca falou: - Quando você mudou para a vila, ainda era casado. Eu me lembro da sua mulher.
- É,... Ela se chamava Vera. – riso sem graça. – Ainda se chama. Não morreu. Ficamos casados por seis anos: tempo o suficiente para ver que foi um erro! Estávamos apaixonados,... Pelo menos eu estava. – ele parou um instante fitando o horizonte: – Um dia, eu cheguei do trabalho e Vera me esperava de malas prontas e dizendo que tínhamos chegado ao limite, e que era melhor a gente terminar enquanto ainda havia respeito e cordialidade. Palavras sensatas, não? - Teca apenas assentiu com um meneio de cabeça, e ele prosseguiu. - Cordialidade tinha de sobra. Nossa audiência de divórcio foi de uma civilidade que deixou até o juiz impressionado; tanto que elogiou a nossa sensatez no caso. Mas no que tange ao respeito! – suspiro. – Uns anos depois eu descobri que Vera tinha outro homem desde o tempo de casados. Mal esperaram o juiz bater o martelo para irem viver juntos. Esse foi o respeito que eu ganhei. Fiquei me sentindo um idiota. - voltou seus olhos para o chão e continuou andando, olhando as ondas. Teca também andava calada ao seu lado. Então ele percebeu que aquela conversa com sua vizinha, e irmã da sua namorada,... Melhor dizer, amante, tinha sido surpreendentemente aberta. Sentiu-se um canalha. Teca acabaria sabendo do seu envolvimento amoroso com Ciça e que ele era o homem escondido em Jampa.
 Então a olhou e falou: - Teca,... Eu preciso,... - mal iniciou a frase e foi surpreendido por ela, que enlaçou seu pescoço e lhe roubou um beijo na boca. Ele tentou uma reação. – O que é isso?
- Isso é o que venho querendo fazer desde o primeiro dia que te vi! – e lhe beijou novamente. Tom tentou resistir, mas não pode refrear o impulso de envolver seu corpo com seus braços e também beijá-la.
- Não! – falou num fio de autopreservação. – Não podemos!
- Por que não? Olhe em volta, não tem ninguém, e estamos a milhões de quilômetros de Minas! – pôs a mão entre as pernas de Tom. – Você quer, não é? Eu também! – olhou rápido, encontrando uma espécie de reentrância entre as rochas com chão de areia branca. – Vamos ali! – ele ainda tentou reagir: - Mas,... Isso é loucura! – excitada ela falou: - Loucura é a gente perder esse momento! Venha! - Teca puxou-o, e ele se deixou conduzir absolutamente envolvido pela excitação que lhe tomava o corpo inteiro. Deitaram-se entre as pedras naquela cama de areia fofa, e foram tirando bermudas, calcinha e sunga, e se entregaram á um sexo cercado de urgência e vontade. Tom ainda buscava algum escrúpulo redentor. – Não posso,... Isso é uma insensatez! – tudo inútil. O prazer daquele instante proibido lhe tomou completamente. Suas mãos buscavam carícias cada vez mais plenas, enquanto beijos e línguas estalavam.



Os dois se amaram tendo algumas gaivotas planando no céu azul como testemunhas. Depois, ficaram lado a lado, sem palavras, Apenas ofegantes.


CONTINUA.

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