Era
uma noite fria de inverno em Juiz de Fora naquela temperatura baixa que dá
saudade na memória, mas só até o momento que acontece!
O
casal Fernando e Natalie se encolhia na cama, enroscando seus pés gelados sob o
edredom buscando se aquecerem quando escutaram a porta do quarto sendo aberta,
e uma voz infantil rompeu o silêncio: - Tia!...
Natalie
levanta a cabeça e acende o abajur: - Bruno?... O que foi meu bem?
-
O bicho papão tá debaixo da cama!
-
O quê ele disse? – perguntou Fernando.
Bruno
repetiu: - O bicho papão tá debaixo da cama!
Natalie
respondeu: - Não tem não, meu bem. Foi só um sonho ruim.
-
Mas o bicho papão tá debaixo da cama, tia!
Ela
levantou, calçou os chinelos gelados e o conduziu de volta ao quarto dizendo: -
Querido; não tem bicho papão nenhum! Vamos deitar que está fazendo muito frio e
amanhã cedo tem aula.
Em
minutos ela voltou á e se meteu novamente debaixo do edredom: - Foi sonho! –
falou antes de se aconchegar ao marido.
Na
noite seguinte o frio aumentou e ao edredom acrescentaram uma manta. O casal
dormia fazendo conchinha quando a porta do quarto se abriu: - Tia!... O bicho
papão tá debaixo da cama!
Natalie
acendeu o abajur, esfregou os olhos e falou: - Querido,... Sonhou de novo?
-
Não tia,... O bicho papão tá debaixo da cama!
Fernando
grunhiu aborrecido enquanto Natalie se levantou, com um pé calçado de meia e o
outro com ela já perdida no meio do cobertor, e conduziu Bruno ao quarto com
palavras carinhosas: - Então vamos pôr este bicho papão pra correr já, já!
Em
minutos voltou para cama e falou ao marido: - Vamos ter paciência, amor!
-
Hunhum... – grunhiu novamente.
Na
terceira noite o frio conseguia ser ainda mais intenso, aumentando a carga de
mantas e cobertores na cama do casal.
No
meio da noite, naquele instante que a cama é mais gostosa, a porta do quarto se
abriu. – Tia,... O bicho papão tá debaixo da cama!
Ela
acendeu o abajur respondeu: - Ah,... Não tá não, querido! A gente não expulsou
ele ontem?
-
Não tia,... O bicho papão tá debaixo da cama!
Fernando
até virou de lado, nervoso por ter descoberto o pé, enquanto Natália se
levantava para conduzi-lo novamente ao quarto com seus pés descalços porque não
encontrou seus chinelos: - Ah Bruninho!... Que bicho papão insistente héim?
Vamos deitar debaixo das cobertas quentinhas que ele vai embora!
Ela
voltou ao quarto e se enfiou debaixo dos cobertores, colocando os pés gelados
nas canelas de Fernando, que reclamou: - Ai,... Que gelo!
-
Desculpe amor!
Ele
sentou na cama e falou: - A gente sabe que tem que ajudar,... Mas esse seu
sobrinho é um saco, heim?... Que dia ele vai embora?
-
Vamos ter paciência meu xuxú; daqui uns dias a mãe dele volta!
-
Sua irmã e seu cunhado são uma gracinha!... Viajam pra Europa e largam esse
pentelho aqui! – se levantou para ir ao banheiro, coçando a barriga, e voltou
logo carangando de frio. – Ele fica lendo bobagens de assombração e depois não
dorme e nem deixa os outros dormirem! – se enfiou nos cobertores e Natalie
falou: - É só mais uns dias! – beijou-o.
-
Tá bem amorzinho! – retribuiu o beijo e virou de lado.
Na
quarta noite o frio conseguiu ficar pior, e o casal já apelava para as colchas
“madrigal” do enxoval do casamento, quando a porta do quarto se abriu: - Tia!
Ela
nem acendeu o abajur e grunhiu: - Ahnnn,... O que foi querido?
- O bicho papão tá debaixo da cama!
Fernando
se irritou e levantou: - Não tem nenhum bicho papão, isso não existe!
-
Tem sim, tio!
-
Não tem não!... Vamos voltar pra cama! – e conduziu o garoto ao quarto ao lado.
Acendeu a luz e levantou o cobertor: - Olhe Bruno! Tem algum bicho papão aí?
Ele
respondeu: - Não,... Mas...
-
Se abaixe e olhe direito!
Ele
abaixou e olhou debaixo da cama.
-
E então? Você está vendo algum bicho papão aí em baixo?
-...
Não! Mas tem...!
Fernando
se abaixou e disse: - Olhe Bruninho: isto é impressão sua! Você está numa casa
diferente; numa cama que não é sua, e isto dá um pouquinho de medo. É normal!
Mas pode acreditar no tio: não tem bicho papão nenhum! Entendeu?
O
garoto concordou com um aceno de cabeça e Fernando falou: - Agora volte para a
cama que o frio está de rachar!
Ele
obedeceu. Fernando apagou a luz e retornou ao seu quarto encolhendo os braços de
frio e resmungando: - Ah,... Se agora ele não der sossego, amanhã vai direto pra
casa da avó!
Entrou
no quarto e não viu Natalie: - Amor,... Você está no banheiro?
Então
ouviu o grito da mulher, e uma mão peluda ensebada o agarrou pelo tornozelo,
derrubando-o e arrastando-o para debaixo da cama do casal. Fernando ainda se
debateu e gritou, mas foi inútil e seus gritos se juntaram aos de Natalie,
seguido de ruídos de dentes triturando ossos, mastigando carne e engolindo. Ao
final, apenas um arroto e o silêncio.
No
quarto ao lado, Bruno deu de ombros e disse:
-
Eu não falei que o bicho papão tava debaixo da cama?
Aconchegou-se
aos cobertores, e dormiu.
Fim.
Mão ensebada... eca
ResponderExcluirbicho papão deve ser todo ensebado! Agh
ExcluirVocê cria o suspense e prende o leitor até o fim ! Muito bom! Stela Amorim
ResponderExcluirobrigado!!!!!
ExcluirUi... Que final!!! Falou comigo em bicho papão, tô acreditando!
ResponderExcluirpor via das duvidas, compre uma cama-box! ehehehe
ExcluirIsso que dá! olha na cama errada!
ResponderExcluir