quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A MALDIÇÃO DA FAZENDA. CASO REAL!


Pense bem antes de escolher o local da sua casa!”
No inicio do século XX, a fazenda do senhor João Gustavo situava-se no antigo distrito de Livramento (atual município de Oliveira Fortes na Zona da Mata, MG) num povoado denominado Formoso. Ele vivia com seus filhos e a esposa Almira, e dedicavam-se ao cultivo do café e criação de gado. Nada diferente das demais propriedades rurais em torno não fossem os fenômenos que, segundo relatos de sua filha, a Senhora Maria Clara, ocorria á qualquer hora, apavorando a família e empregados.
Ela não soube precisar exatamente quando começaram, mas seriam de extraordinária persistência. Objetos levitavam e desapareciam para reaparecem noutros lugares; pessoas eram tocadas por mãos invisíveis; aves tinham suas pernas cortadas; ouviam-se vozes com impropérios e xingamentos, e a casa foi alvejada com pedras e excrementos diversas vezes.
Os fenômenos eram variados. Panelas se erguiam do fogão de lenha durante a preparação dos alimentos e levitavam através da janela, sendo atiradas ao quintal. Dona Almira desafiava, dizendo: “pode levar que eu faço mais!”. Objetos da casa e ferramentas desapareciam para depois serem encontradas em outros lugares sem que alguém as tivesse manuseado; pessoas sentiam puxões de cabelo à noite, na cama enquanto que cobertores eram arrancados e atirados ao chão. Colchões pareciam querer se levantar e se enrolar aos pés da cama. Galinhas e patos tinham suas pernas cortadas e amanheciam agonizando no galinheiro sem que encontrasse rastro de onças ou raposas em torno. O detalhe é que á qualquer ataque de animal, as aves em pânico fariam barulho, que não ocorria. Havia um ligeiro declive ao acesso da sede da fazenda, e algumas vezes ouviram-se vozes dizendo algo como: “lá vem a urubuzada!”, e nunca descobriram de onde vinham. Em diversas ocasiões a casa foi alvejada por pedras que ricocheteavam nas paredes ou entravam pelas janelas, inclusive excrementos do curral e novamente não se descobria os autores, pois vinham de várias direções.
O caso mais intrigante envolveu um padre chamado para benzer a fazenda e espantar os “maus espíritos” que a assombravam. A sala de jantar foi preparada para a celebração com a família e empregados em volta da mesa que, repentinamente, começou a ser alvejada com excrementos de vaca que pareciam vir de todas as janelas e portas. Então o padre esconjurou os “espíritos”, ordenando que cessassem em nome de Deus, e passou a ser o alvo do bombardeio, tendo que sair correndo da casa até a porteira onde seu cavalo estava amarrado e só parou de ser alvejado quando montou e saiu á galope.
Numa segunda tentativa chamaram outro padre que chegou após uma chuva. Ele prendeu o cavalo á porteira e o guarda chuva aberto á um mourão de cerca, seguindo á sede da fazenda, onde conseguiu realizar a bendição sem problemas. Parecia estar tudo resolvido e o padre seguiu á porteira para ir embora, mas quando foi apanhar seu guarda chuva, ele estava no chão amassado como se fosse uma bola de papel e seu cavalo tão assustado que quando o soltou da porteira foi preciso segurar firme o cabresto para que não fugisse.
Estes fenômenos fizeram a fazenda ganhar fama de mal assombrada, e isto afugentava os empregados. Logo depois, com o colapso da Bolsa de valores de Nova York em 1929, veio o declínio repentino da atividade cafeeira no Brasil que levou as propriedades que se dedicavam á aquela cultura á ruína, e a fazenda do senhor João Gustavo não foi exceção. Mais tarde ele contraiu glaucoma e ficou cego, tendo que se mudar para o núcleo urbano. Abandonada, a sede da fazenda foi demolida, não havendo mais relatos de fenômenos sobrenaturais no lugar.
Há alguns fatores a serem considerados na análise do caso. A tradição oral sem documentação pode conter incoerências que coloque em dúvida sua autenticidade; mas os acontecimentos não foram testemunhados apenas pela senhora Maria Clara, mas por diversas pessoas que teriam presenciado os fenômenos. O pesquisador Roger Laffororest (Paris, 1905 – 1998) afirma que se uma só pessoa relata acontecimentos insólitos, pode ser considerada neurótica, mas se várias pessoas relatam a mesma coisa, há que se dar-lhes algum crédito, ou pelo menos é indício que algo estranho está ocorrendo.
Outro fator, é que litígios e brigas do senhor João Gustavo com vizinhos e empregados poderia provocar retaliações ou mesmo vinganças. Ou seja, em tese os fenômenos poderiam ter sido feito propositalmente por pessoas vivas e não forças sobrenaturais, como os apedrejamentos. Mas da maneira que são descritos, vindo de várias direções, demandaria um grande numero de pessoas atirando pedras e excrementos até pelas janelas, e em algum momento isto seria percebido. O mesmo vale para os insultos e xingamentos ouvidos á entrada da fazenda.
 Objetos que desapareciam e reapareciam noutro lugar poderia ser creditado á meros lapsos de memória. Episódios como os puxões de cabelo e cobertores atirados ao chão poderia ter origem em pesadelos e movimentos involuntários durante o sono, ou mesmo sonambulismo. Objetos levitando e voando pela janela poderiam ser provocados pelos próprios moradores, lembrando que estamos falando numa sociedade rural, patriarcal e repressora, onde este tipo de farsa poderia atuar como quebra na normalidade e fragilização no papel repressor do “homem da casa”. O mesmo valendo para a mutilação das aves.
O pesquisador Roger Laffororest (Paris, 1905 – 1998) classificou esses logradouros como “locais maléficos” ou “vórtices de energias” ou ainda caixas de ressonância das energias desprendidas pelo sofrimento, ódio, ira que se manifestaria à presença de um agente, ou médium. Ou seja: um ou mais membros da família do senhor João Gustavo poderia ser este agente. Assim, os fenômenos relatados na fazenda poderiam ser classificados como “poltergeist”, ou traduzido do alemão: “espírito brincalhão” que seria o responsável por desordens como deslocamento de móveis e objetos sem intervenção física de uma pessoa assim como coisas que desapareceriam para reaparecerem em outro lugar, definido na parapsicologia como “aporte”. Outro fator é que na maioria dos casos há a presença de um adolescente no lugar onde ocorre o “poltergeist”, determinando um reflexo dinâmico das energias sexuais não utilizadas ou reprimidas. Na família existiam meninas na adolescência que poderia ser os agentes provocadores dos fenômenos sobrenaturais relatados. Laffororest afirmava que o próprio homem poderia produzir vórtices de energia, e que tais fenômenos seriam a manifestação disto, influenciando o ambiente.
No entanto se levarmos em conta que o padrão patriarcal e repressor á sexualidade, á mulher e nas relações de trabalho era a regra geral no início do século XX, assim como conflitos entre vizinhos, há que se perguntar por que somente a fazenda do senhor João Gustavo foi acometida de tantos fenômenos paranormais? Reportando Laffororest: ele cita os autores A. de Bélizal e P. A. Morel que denominaram o “caminho das energias telúricas” como linhas que cortariam o globo terrestre em todos os sentidos, se cruzando em vários momentos. A cada intersecção destas ocorreria superposição de forças criadora dos vórtices, como ponto crítico de uma frequência vibratória, e qualquer coisa, edificação ou pessoas colocadas exatamente sobre esses vórtices, poderia sofrer influências que se materializariam sob a forma de fenômenos como poltergeist, aportes, levitações e etc. Ou seja, a fazenda do senhor João Gustavo estaria numa destas intersecções. Haveria ainda outros fatores vetoriais aos fenômenos, como falhas geológicas e cursos d’água subterrâneos, capazes de também formar vórtices.
É preciso também considerar a localização da fazenda numa área por onde passariam estradas vicinais, ao largo da Estrada Real (que ligava a região aurifica da Capitania das Minas Geraes ao Rio de Janeiro). É sabido que eram utilizadas no contrabando de ouro no período colonial, e existem inúmeras lendas sobre escravos que para preservar o segredo desta atividade, eram mortos e enterrados sem os ofícios religiosos, e assim se tornariam almas penadas, ou espíritos de desencarnados na visão espírita. Contudo, isto não seria unanimidade entre os parapsicólogos, pois os espíritas acreditam que almas penadas poderiam interagir com médiuns que se tornariam vetores desses fenômenos, enquanto que os espiritualistas não creem na ação direta de espíritos dos mortos e sim numa espécie de ação residual das suas vidas, mas sem espírito. Portanto, como foi dito acima, seriam pessoas vivas produzindo vórtices capazes de criar “fantasmas”.
Chega-se a conclusão que toda a perturbação que a família do senhor João Gustavo passou, deu-se pelo azar de construir sua casa no lugar errado. Assim, como o próprio Laffororest aconselhava: pense bem antes de escolher o local de sua casa!  
  
Referências bibliográficas:
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LAFFOROREST, Roger, Casas que Matam, citado por: MACHADO, Adilson, PIRES, Iracema, Paredes com Memória, Maldições antigas e Radiações Telúricas, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 77, p. 28 – 33,  fevereiro de 1979.

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