A jovem espiava o movimento
da rua pela janela do apartamento. Era pálida e seu olhar procurava algo especial
por entre os transeuntes, e suspirou. – Que horrível esta gente feia que passa
na nossa rua! – seu namorado estava sentado numa poltrona e reclamou: - Nunca
tivemos um período tão escasso Ilona; precisamos de sangue novo! – passou sua mão branca no rosto: - Tenho
vontade de chegar á rua e pegar o primeiro que aparecer! – ela o repreendeu. –
Está louco Thorko; quer que nos descubram? – e continuou à janela naquele fim
de tarde quando algo lhe chamou atenção: um carro que parava em frente. – Thorko,
venha ver! – saiu uma mulher acompanhada de uma linda garota cujos cabelos sedosos
balançavam á brisa e entram no prédio; como seu apartamento ficava no térreo,
conseguiram ouvi-las tendo dificuldade em abrir a portão do hall. – É agora! –
falou Ilona.
A mulher estava
embaraçada com as chaves e Ilona surgiu solícita, explicando: - É a chave pequena
que abre a fechadura! - ela tentou e
conseguiu: - Oh, muito obrigada. Entre, filha! – a garota entrou, e era ainda
mais linda de perto: alta, pele rosada e rosto arredondado com dois grandes
olhos azuis. Thorko se aproximou e Ilona perguntou: - São moradores novos?
- Não exatamente: sou
relações públicas e estou na cidade á trabalho.
Preferi alugar um apartamento de temporada; é melhor do que Hotel.
- Com certeza! Sou
Ilona Joo; como você se chama?
- Sou Ana, e esta minha
filha Betina! – a garota sorriu com lábios vermelhos mostrando dentes perfeitos
e brancos. Thorko arregalou os olhos quando ela jogou o cabelo para trás
mostrando seu colo e pescoço. - que moça linda; quantos anos você tem? –
perguntou Ilona.
- Quinze. – respondeu
com uma voz tímida.
Ana falou seguindo ao
apartamento ao lado: - Iremos embora amanhã á tarde. Bem, muito obrigada! – a
garota seguiu a mãe espiando os vizinhos com olhar desconfiado.
O casal retornou ao seu
apartamento com Thorko se contorcendo de excitação. – Ela é perfeita,
maravilhosa e linda,... Só tem quinze nos, e aposto que é virgem! Ah,... Só de
pensar na pulsação adolescente que emana daquele corpo,... - Vamos bater na
porta delas e acabar logo com esta aflição!
- Não podemos fazer
isto; você se esqueceu das vezes que estivemos por um triz de sermos
apanhados?... Mas eu sinto que vai acontecer algo a nosso favor.
- Mais uma dos seus
sortilégios Ilona?
- Não Thorko; apenas um
pressentimento!
Á noite, Ilona ouviu
uma conversa no corredor: era Ana ao telefone: -... Não acredito que vocês vão
me deixar na mão!... Avisam em cima da hora e não arranjam ninguém para ficar
com minha filha enquanto trabalho? Isto é sacanagem!
“A ocasião bate á
porta” pensou Ilona ao sair, simulando ajeitar o capacho, enquanto Ana
prosseguia: - Querem saber de uma coisa? Vão á merda! – desligou o telefone e
pôs a mão na testa, resmungando: - Tô fudida!
Ilona aproveitou: -
Acabei ouvindo-a sem querer: algum problema?
- Problemão! Já estou
arrumada para ir ao evento que vou trabalhar, até chamei o uber, e só agora a
agencia me diz que não poderá mandar a babá para ficar com Betina! E quem me
contratou deixou bem claro que não posso levar minha filha. Que droga; vou ter
que desmarcar o trabalho;... É capaz de me despedirem!
- Ora; se você quiser,
nós podemos tomar conta da sua filha! Não vamos sair hoje.
- Não quero incomodar;
o evento vai acabar de madrugada.
- Sem problema algum,
eu meu namorado somos notívagos! A não ser que você não confie em deixar sua
filha com pessoas que não conhece.
- Oh não, vocês é que
estão sendo bons com uma estranha!... Mas,...
Jura que não vai atrapalhar?
Ilona abanou a cabeça.
– Claro que não! – Thorko chegou á porta e ela perguntou: - Não é amor? – ele
respondeu. – Não vai incomodar nada; será um prazer!
Ana sorriu e respondeu:
- Puxa gente: muito obrigada, nem sei como agradecer! Vou buscar Betina. – os
dois trocaram olhares, e Ilona ouviu a garota resmungar antes de sair: - Eu não
quero ficar com esses dois esquisitões! – Ana cochichou. – Fala baixo; são
apenas góticos que gostam de andar de preto. Não seja criança Betina, por
favor! – e saiu trazendo a filha enquanto olhava a rua pelo portão: - Meu uber
chegou! Comporte-se héim; você é uma moça! Mais uma vez obrigada, gente, e qualquer
problema, me liguem! Até mais! – e saiu correndo pelo portão ajeitando um casaco
nas costas.
Então Ilona olhou
Betina e lhe disse puxando a mão. – Vamos entrar? – eles á conduziram ao
apartamento com paredes pintadas de preto, estofados em roxo, móveis antigos de
madeira escura e outros adereços macabros. Betina olhava em torno com olhar
receoso até se deparar com um retrato de dama antiga numa moldura barroca
rebuscada. Fitou-o um instante e perguntou: - Quem é esta mulher, uma princesa?
– Ilona respondeu: - Não; esta é a condessa Elizabeth Barthory, que há muitos
séculos viveu num castelo lindo nas montanhas dos Cárpatos, na Hungria! –
Betina perguntou. – É uma que era vampira? – Ilona sorriu e respondeu. – Nada
disso, ela era uma mulher adiante do seu tempo, uma visionária! – Thorko vinha
trazendo uma bandeja com um copo e á ofereceu: - Trouxe um refresco de frutas
vermelhas; uma delícia, prove! – Betina tomou um pouco e gostou. Então Ilona a
conduziu á um corredor enquanto falava. – Você gosta de jogos? – ela assentiu:
- Então venha conosco,... Vai ser divertido! – Entraram num quarto e fecharam a
porta.
Tempos depois num
noticiário de TV: “A polícia continua sem
pistas do crime ocorrido há quinze dias, quando foram encontrados os corpos de
Maiconsuel de Almeida e Maria José da Silva, já em estado de decomposição ao
lado de uma banheira cheia de sangue. O referido casal atendia pelas alcunhas
de Thorko e Ilona Joo, e era procurado pela polícia por divulgar pedofilia pela
internet, inclusive havia um estúdio fotográfico montado no apartamento para
este fim, além de inúmeras fotos de meninas e adolescentes vestidas de vampiras
em trajes sumários”...
Há uma sonora
gargalhada no carro enquanto a garota afastava seus cabelos sedosos dos olhos
ao dizer: - Casalzinho patético! Maiconsuel e Maria José se passando pelos meus
mais fiéis vassalos; Thorko – que guiava o carro. – e Ilona. - no carona. –
Queriam que eu fizesse fotos, quase nua, com uma capa e dentes postiços de
plástico! Horripilante, para dizer o mínimo. Ilona, você foi perfeita no papel
de Ana, a relações públicas! Mas aqueles dois idiotas serviram bem; eu precisava
me banhar em sangue. – riso. – Tutorial de beleza da condessa Elizabeth:
banhar-se em sangue é a garantia da aparência de quinze anos por quatrocentos e
nove anos; acho que vou até publicar isto no YouTube! – novo riso. – Desde que
nós fugimos da Hungria em 1610, eu nunca vi um século tão esquisito quanto este
XXI. O casal não fazia sexo; como assim?
- gargalhada. - Eram dois pervertidos que se masturbavam vendo
fotografias das meninas. Que século bizarro este!
- Para onde vamos agora
Majestade?
- Hum,... Deixe ver aqui
Thorko. – A condessa mexeu no seu notebook e assinalou. – Eu achei mais uma
turminha postando pornografia infantil na rede! – abanou a cabeça. – Que feio, até
pelas fotos está evidente que não fazem sexo! Juro que eu nunca vou entender
isto.
- Aonde é Majestade?
- É num lugar chamado
Juiz de Fora; que nome estranho! Thorko; pegue a BR 040 e siga pra esta cidade
em que o juiz não mora lá. Quando chegarmos, veremos como agir! - a condessa
recostou no banco traseiro do Porsche Cayman, pôs os óculos escuros e
filosofou: - Pensem que estamos fazendo um serviço de utilidade pública,
limpando o mundo desta corja de pervertidos! Quem sabe não entramos para a
polícia?
Mais uma gargalhada
quando o carro seguia pela estrada.
Fim
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