CONTINUAÇÃO:
QUARTO CAPÍTULO: AS ONDAS.
Na pensão Tom conseguiu retornar á
chamada de Ciça, mas estava fora de área. Era preciso fazer algo imediatamente,
então saiu em direção á Praia dos Coqueiros na intenção de chegar antes delas
conversarem! - Estou perdido; mas é melhor que fique tudo claro e depois eu
arco com as consequências! – pensou enquanto tentava seguir rápido pelas ruas
da antiga cidade de João Pessoa. – Puta merda, parece que todo mundo resolveu sair
de carro logo hoje! - reclamou enquanto buzinava agarrado numa rua estreita com
trânsito se arrastando como um cortejo de lesmas.
O céu estava nublado e ventava muito.
Puseram placas informando que banhos de mar e surf estavam proibidos por causa
da ressaca e havia poucas pessoas, a maioria, turistas desapontados por não
poderem entrar nas águas do mar bravio. Passaram-se vinte minutos de idas e
vindas sobre os rochedos sem encontrar o menor vestígio das duas. Veio á esperança
que tivessem desistido face ao tempo nublado que não convidava a passeios,
ainda mais com o mar quebrando nas pedras em ondas furiosas. Então ocorreu algo estranho: pessoas corriam
para uma ponta rochosa e pareciam olhar para baixo, e um súbito temor lhe subiu
pelo pescoço numa intuição terrível. Tom seguiu correndo ao grupo e avistou
homens salva-vidas empoleirados nas pedras ante á arrebentação de vigorosa das
ondas. Ele perguntou a um rapaz. - O que aconteceu? – ele respondeu: - Parece
que uma mulher caiu no mar e as ondas a levaram; será que foi acidente,...
Senhor? - Tom saiu de perto do grupo e resolveu descer á parte onde havia mais
curiosos e policiais isolando a área. Um membro do Corpo de Bombeiros falava ao
rádio em voz alta para vencer o rugido do mar solicitando um helicóptero.
Demorou cerca de quinze minutos até a aeronave vir e flutuar sobre as águas com
homens á beirada, vasculhando o mar com binóculos. De vez em quando pairava no
ar para que pudessem observar algo e voltava á circundar. De onde estava Tom
conseguia o bombeiro falando ao rádio que a vitima devia ter seguido ao sul com
a maré.
Tom passava as mãos nos cabelos sentindo
o suor que lhe escorria frio. O céu nublado parecia um mau agouro depois de
vários dias ensolarados; logo naquele dia, nuvens pesadas embotaram o paraíso!
Então decidiu ir ao hotel: quem sabe as duas estariam lá e aquele desespero era
á toa? Pensou.
Ele chegou perto da entrada da portaria,
mas se deteve porque um homem baixo acompanhado de dois policiais saía: era um
delegado de polícia e informava aos repórteres que havia uma mulher suspeita
que já teria se evadido, mas não poderia revelar seu nome ainda. Havia um grupo
de pessoas ouvindo noticiário na TV e ele correu para ver: - Tragédia na Praia dos Coqueiros hoje por
volta das dez horas quando uma mulher caiu ao mar de numa parte mais elevada
dos rochedos. Guarda-vidas e bombeiros foram acionados, mas o mar em ressaca
com vagas de três metros impediram que os homens entrassem nas águas. Foi
acionado o helicóptero dos bombeiros que sobrevoou a área em torno dos
rochedos, sem sucesso. Um casal de turistas que passeava nos rochedos afirmou
ter visto duas mulheres discutindo, e num dado momento chegaram a dar empurrões.
Os bombeiros continuam a busca pela mulher sem esperanças de encontra-la com
vida”.
Ele pôs a mão na cabeça e andou de um
lado a outro desnorteado. O homem que parecia ser delegado olhava em volta, e
de súbito lhe correu um temor absurdo que alguém recordasse de tê-lo visto com
Teca no buggy. Então correu de volta ao carro e voltou á pensão.
No quarto, Tom apanhou seu notebook á
cata de notícias que pingavam á conta gotas: - “O casal de turistas que presenciou a discussão nos rochedos que resultou
numa tragédia descreveu as mulheres como sendo ambas de estatura mediana: uma
era morena clara de cabelos pretos até os ombros e estaria usando bermuda
cáqui, camiseta regata rosa, sandálias com salto e uma bolsa laranja” – É a
Ciça! – pensou aflito enquanto prosseguia. – “A outra mulher seria morena clara e trajava short jeans, camisa xadrez
vermelha amarrada na barriga, chinelos ‘havaianas’, boné amarelo e aparentava
ter cabelos curtos.”. – Teca! – “Mas a polícia ainda não conseguiu
identificar”.
Mais tarde outra notícia trazia a
informação de um motorista de táxi que teria apanhado as mulheres á portaria do
hotel, que pediram para ir á Praia dos Coqueiros, e sua descrição batia com a
relatada pelo casal de turistas.
Á noite uma última notícia informava do
encerramento das buscas, que reiniciaria na manhã seguinte. Tom permaneceu
sentado na cama com o notebook no colo até a madrugada, remoendo sua tristeza e
remorso, quando vencido pelo cansaço adormeceu.
Era dez e meia da manhã quando ele
despertou, e sua primeira providencia foi averiguar o noticiário: “O corpo de uma mulher correspondente á
descrição da que caiu ao mar na Praia dos Coqueiros ontem foi encontrado
boiando na orla da Praia de Cabo Branco e resgatado pelo Corpo de Bombeiros ás
sete horas e vinte minutos desta manhã.” – Ao ler a notícia Tom sentiu um
forte aperto no peito. – “A polícia
encontrou as irmãs Celeste de Souza Vergara e Cibele de Souza Vergara nos
registros do hotel. Concluíram que Cibele é a mulher que morreu no mar. A
direção do hotel informou que Celeste de Souza Vergara deixou o hotel com
bagagem ás onze horas e trinta e cinco minutos de ontem com paradeiro ignorado.
As duas mulheres são da cidade Juiz de Fora, MG. e estariam hospedadas á cinco
dias.”. - Tom tinha certeza de que o motivo da discussão que terminou em
tragédia foi exatamente ele.
De repente aquele quarto começou a ficar
sufocante nas lembranças de Ciça que emanavam em cada canto, e ele saiu á rua.
Pessoas comentavam sobre a tragédia na Praia dos Coqueiros, e veio novamente o
temor de alguém se lembrar de ver Ciça se encontrando com um homem naquela
pensão; o que não seria tão fácil, pois ela sempre ia com chapéu de palha,
óculos escuros e echarpe cobrindo parte do rosto. Mesmo assim ele entrou no
buggy e saiu.
Tom passou o dia entrando por varias
ruas á ermo até chegar á Praia dos Coqueiros com vontade de resgatar o que já
estava perdido para sempre. Ironicamente o dia estava claro e mar calmo.
Mais tarde obteve mais informações sobre
o caso: duas irmãs brigaram nas rochas à Praia dos Coqueiros e uma empurrou a
outra dentro do mar que estava de ressaca. Citaram o nome de Celeste como a
autora do crime, e que teria fugido para Minas Gerais, mas a polícia já estava
no encalço.
O
que era para ter sido uma viagem idílica á Jampa convertia-se num pesadelo cujo
final parecia estar longe.
Ao abrir seu notebook, encontrou uma
notícia: “O corpo da vítima do crime da
Praia dos Coqueiros se encontra no Instituto Médico Legal onde passou pela
necropsia. A polícia não conseguiu contato com parentes, que viveriam em Santa
Catarina, que pudessem vir á João Pessoa para fazer a identificação.” Ele
abanou a cabeça na certeza que teria mais esta missão pela frente. Era o mínimo
que poderia fazer por Ciça.
Na manhã seguinte Tom já estava no IML
para a identificação do corpo de Ciça, se apresentando como policial e vizinho
da vítima e da suspeita do crime. Mais cedo ele fez contato com o delegado
Malaquias, seu superior, solicitando mais alguns dias de folga para cuidar dos
procedimentos para liberação e translado do corpo de Ciça para Juiz de Fora, e
posterior sepultamento. O delegado autorizou, mas não se esquivou da pergunta
se ele estaria junto com suas vizinhas naquela viagem. Tom negou veementemente!
O Legista abriu a geladeira do IML e puxou
uma espécie de gaveta contendo um corpo envolto num saco plástico com zíper. Tom
precisou segurar até o limite da sua suscetibilidade para não desabar num choro
compulsivo ante a visão do corpo de Ciça com seu rosto e pescoço inchados,
cabelos em total desalinho sendo ainda possível ver parte da sutura no colo.
Então, numa alucinação terrível ela abria os olhos e dizia. – Foi tudo sua
culpa, mas não vai escapar de mim; vou te buscar!
Tom teve que se segurar para não sair
correndo.
Enquanto aguardava algumas formalidades,
ele buscou notícias no celular e veio á sentença definitiva. “A polícia de Juiz de Fora, MG, prendeu a
suspeita do crime da praia dos Coqueiros em João Pessoa, PB. Celeste de Souza
Vergara estava na casa onde residia com a irmã naquela cidade. Foi detida e
levada á delegacia. A Polícia de João Pessoa já solicitou o envio de Celeste ao
estado da Paraíba onde já existe um mandato de prisão preventiva. Isto deverá
ocorrer nas próximas horas.”. - Tom passou as mãos no rosto quase em
desespero.
CONTINUA.
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